sábado, 27 de fevereiro de 2016

ADEUS PRAIA VERMELHA: 1966 - 2015 Non... Rien de rien, Non... Je ne regrette rien

 

 

Adeus Praia Vermelha 

1966 - 2015  

Non... Rien de rien, Non... Je ne regrette rien



Recentemente foi homologado meu pedido de aposentadoria.

Um ano antes de completar 70 de idade, resolvi voluntariamente me aposentar para evitar o constrangimento da expulsória ou, eufemisticamente, aposentadoria compulsória. 

Afinal estamos longe de ter os mesmos direitos dos juízes dos tribunais superiores do Brasil que podem se aposentar aos 75. Não pertencemos a essa classe, inclusive em relação aos nossos salários que sempre estiveram muito aquém dos salários da magistratura.

De fato, como afirmou um dos recentes ministro da educação da Pátria Educadora: "Quem quer da aula faz isso por gosto, e não pelo salário". É a cultura arraigada do Voto de Pobreza...

Nada obstante, quero de forma breve, deixar registrado que Realizei um Sonho.

Pelos idos dos anos 1960, sonhava cursar economia, particularmente na Universidade do Brasil, e... no campus da Praia Vermelha. Inscrevi-me no seu vestibular, os dias se sucediam, o resultado não saía. 
Alicercei esse sonho quando decidi rasgar o cartão de inscrição para as provas que estavam se iniciando na UEG (atual UERJ). Teimoso: Universidade do Brasil ou nada!

Passei, iniciei, em 1966, o ainda não muito difundido Curso de Economia, na então Faculdade Nacional de Ciências Econômicas. Graduei-me em 1969.

Lecionei Álgebra Linear, Cálculo e Matemática Financeira durante cinco anos, de 1970 a 1974, como professor substituto do Instituto de Matemática, na nova denominação Faculdade de Economia e Administração (FEA) da UFRJ.

Concluí o mestrado em Engenharia, em 1976. 

Prestei concurso público para a área de Economia Internacional nesta UFRJ, em 1977. Tomei posse no ano seguinte.

O doutorado em Economia eu o fiz nesta Universidade Federal do Rio de Janeiro e defendi tese em 1998.

Em quarenta anos de carreira docente, orgulho-me de jamais haver me afastado de sala de aula, ministrando sempre dois ou mais cursos por semestre, na graduação em Economia e, também nos cursos de Filosofia, Serviço Social e Ciências Contábeis. Nos últimos anos, tive a grata satisfação de lecionar também no curso de Administração.

Para mim, o que fiz ao longo da vida acadêmica me basta, me conforta emocionalmente. 

Não foram anos avaliados estatisticamente por um punhado de pontos atribuídos ao meu desempenho numa famigerada escala de valores que, além de questionáveis, ouso dizer que muito provavelmente meus antigos mestres não seriam aprovados.

Pelos atuais critérios adotados para progressão na carreira do magistério superior, em particular as regras de "produtivismo",  rigorosamente seguidas pelas "bancas examinadoras", em especial por certos "zelosos" examinadores, creio que o Professor Octavio Gouvêa de Bulhões, meu velho professor de Macroeconomia e Patrono de minha Turma, em 1969, em quem procurei me espelhar na vida acadêmica, muito provavelmente não passaria de um modesto professor assistente. 

Muito provavelmente não lograria aprovação na avaliação de seu desempenho porque teria "produzido" pouco, isto é, teria "pontuado" pouco: publicou muito pouco e, ainda, cometeu erro imperdoável pelos padrões atuais, porque dedicou sua vida acadêmica prioritariamente à sala de aula nos cursos de graduação.

Tenho alguns "inconformismos".

Embora seja professor Associado, não me conformo com as intermináveis "reestruturações" na carreira do magistério superior que ocorreram ao longo do anos, que criaram sucessivamente novas classes, e com as formas como sempre foram conduzidas as reivindicações por melhores salários. 

Quem sabe, os baixos salários não ajudam, mesmo que em parte, a explicar a criação em progressão geométrica  de cursos de "extensão" pagos, na Universidade dita pública e gratuita, como forma de complementação salarial?

Perdoem, mas não fui capaz de aceitar salas de aulas em contêineres, nos ditos "anexos". Recusei-me as dar aulas nesses latões. Lembro-me que antiga prefeita da cidade de São Paulo por pouco não perdeu seu mandato ao mandar "construir", também provisoriamente, alguns latões em escolas da capital.

Igualmente deixo registrado meu pesar com a pequena participação do IE na vida nacional no papel de proponente de alternativas para o desenvolvimento do País, inclusive do nosso Estado, já que aqui se localiza, em contraste com a atuação que se faz presente na área do Direito. 

Há aqui dentro uma imensa equipe, altamente qualificada e diversificada que poderia propor mais como Instituição. Um pouco menos de projetos pessoais ou de grupos fechados faria bem.

Sinto orgulho por ser economista; agradecido por ter tido o privilégio de ser professor desta Universidade, vaidoso por haver ingressado no corpo docentes deste IE através de rigoroso concurso público; satisfeito por haver contribuído  para disseminar o interesse e mostrar a importância do setor externo para nossa economia; recompensado pela minha juventude que aqui deixei; honrado pelos milhares de alunos que aqui ajudei a formar; saudoso dos professores de escol que aqui tive; lembroso do espírito de corpo que, infelizmente, talvez ande um pouco esquecido.

Externo meu agradecimento aos colegas de magistério, em especial do IE e da FACC, extensivo aos técnicos-administrativos - cujo trabalho nem sempre é devidamente valorizado - pelo privilégio de tê-los conhecido e com eles trabalhado: os companheiros de longa data, alguns ainda na ativa, outros aposentados ou que já se foram para sempre, os muito não tão "antigos" e, ainda, os vários novatos dentre os quais tive a oportunidade de conhecer alguns, pena que brevemente.

Sou particularmente grato a todos os meu antigos alunos. Foi por eles e para eles que me dediquei. Na verdade foram eles que me recompensaram, me motivaram e me trouxeram até aqui. Dentre os antigos alunos, honra-me, sobremaneira, haver lecionado para muitos dos atuais professores do Instituto de Economia.

Enfim, foram cinquenta anos na Praia Vermelha, como aluno e professor. Se me fosse dada a possibilidade de reeditar o tempo, não o repaginaria.

Não... Nada de nada, Não...Não me arrependo de nada,
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal - tudo isso tanto me faz!

Recomeçaria do zero. Faria tudo igual novamente!

Até outro dia.

Érico.

Em tempo: quando comecei a provar o gostinho pela Praia Vermelha, nos anos 60, diziam que isso duraria pouco, era iminente a nossa ida para o Fundão. Meio século depois...