quarta-feira, 14 de maio de 2014

"AULÃO" DE MACROECONOMIA EM 15 DE MAIO DE 2014

Faço público meu agradecimento ao Prof. Dr. Synval de Sant'Anna Reis Neto pela enorme boa vontade, mais uma vez demonstrada, ao nos ceder gentilmente seus tempos de aula no dia de amanhã.
 
Transcrevo, abaixo, a troca de e-mails entre Jaasiel, aluno representante da Turma B, e o prezado Prof. Synval.

 

Preclaro Sr. Jaasiel Felipe,
Todas solicitações do Prof. Erico procuro atender.
Assim sendo, coloco os meus horarios de aula a disposição desse emérito Professor, além do que sua disciplina é uma das mais relevantes do curriculo do Curso de Administração, pois sem tal conhecimento, o egresso não possui as condições necessárias ao exercício da profissão.
Assim sendo, ja considero reagendadas as aulas a serem proferidas pelo ilustre Professor.
Atenciosamente,
Prof. Dr. Synval de Sant' Anna Reis Neto
UFRJ - CCJE - Faculdade de Administração
Coordenador do Observatório da Educação Corporativa
www.oec.ufrj.br


==========================================================

---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Jaasiel Felipe Silva <jaasiel@outlook.com>
Data: 14 de maio de 2014 12:28
Assunto: Representação - Aulas de Quinta-Feira (15/05)
Para: "Synval De S. Reis Neto" <
synvalsrn@gmail.com>


Caríssimo Professor Synval,

As condições que impossibilitaram as aulas nos dias 13 & 14/05, impediram também, por óbvio, a realização do que havia sido combinado para a última terça-feira(13):
Os horários de Fund. de Administração, das turmas A & B de Administração 2014.1, seriam cedidas ao professor Érico Lins Leite, para as aulas de MACROECONOMIA.

Normalizadas a situação do transporte público, gostaria de saber se é possível, a interesse do professor Érico, reagendar o supracitado para AMANHÃ, Quinta-Feira (15/05).

Ciente de que estes eventos exógenos à nossa universidade afetam a todos, aguardo sua resposta sobre a viabilidade desta proposta.

Atenciosamente;

--
Jaasiel Felipe de Araújo Silva
Faculdade de Administração e Ciências Contábeis
Universidade Federal do Rio de Janeiro
(21) 99646-9122

terça-feira, 13 de maio de 2014

O QUE ESTUDAR P/ TENTAR COMPENSAR A "GREVE" ??? DOS RODOVIÁRIOS

ROTEIRO:

1) Definição de Balanço de Pagamentos.
Vasconcellos cap. 14 e/ou USP cap.6 pp.184 a 191 e/ou Wonnacott caps. 24 e 25.

2) Registro das operações entre residentes e não residentes no país.
Texto que deixei, semana passada, na copiadora do André (Comércio e Finanças Internacionais).

3)  BLOG: Estudo: cap. 9 - Comércio Exterior e Movimento Internacional de Capitais.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

DESINDUSTRIALIZAÇÃO PRECOCE: FUTURO OU PRESENTE DO BRASIL - Rubens Ricupero


A perda relativa de importância da indústria na economia brasileira é precoce ou acontece porque o país já completou esse ciclo de desenvolvimento?

Para apresentar essa problemática, o periódico Le Monde Diplomatic publicou, na sua edição de maio de 2014, artigo do embaixador Rubens Ricupero. Diplomata e ex-ministro do Meio Ambiente e da Fazenda, é diretor da Faculdade de Economia da Faap. Foi secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) entre 1995 e 2004.


Desindustrialização precoce: futuro ou presente do Brasil?

Rubens Ricupero


O que se entende por desindustrialização precoce?

A desindustrialização precoce é a variante patológica da chamada “desindustrialização positiva”. 

Quando a industrialização completa com êxito o processo do desenvolvimento, elevando a renda per capita a um nível alto e autossustentável, o setor manufatureiro começa a declinar, em termos relativos, como proporção do produto e do emprego. 

Isso ocorre em um contexto de crescimento rápido e pleno emprego, no momento em que se atinge renda per capita elevada. 

O fenômeno é patológico quando aparece em economias em que a renda permanece reduzida e em contextos de baixo crescimento. Nesse caso, o processo de industrialização abortou antes de dar nascimento a uma economia próspera de serviços, capaz de absorver a mão de obra desempregada pela indústria. É a “construção interrompida” do título do livro de Celso Furtado.


Onde ocorre o fenômeno?

Ele vem ocorrendo em diversas economias da África, América Latina e do Oriente Médio no curso dos últimos trinta anos, desde a crise da dívida externa dos anos 1980. Em 2003, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) estudou o que vinha acontecendo no relatório Comércio e Desenvolvimento (Trade and Development Report) daquele ano, que pode ser encontrado e obtido no site da Unctad.


Qual foi o resultado do levantamento?

A Unctad chegou à conclusão de que, em relação a esse problema, as economias em desenvolvimento poderiam ser divididas em cinco grandes categorias:

1. O grupo original e mais avançado dos Tigres Asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong), principalmente Coreia do Sul e Taiwan, que já atingiram um nível adiantado de maturidade industrial por meio de rápida acumulação de capital, crescimento do emprego em geral, da produtividade e do emprego industriais, assim como das exportações de manufaturas. Nessas economias, a porcentagem da produção industrial no PIB é bem superior à dos velhos países industrializados, mas o ritmo da expansão da capacidade produtiva e da produção no setor industrial desacelerou-se muito em comparação ao que ocorria em décadas passadas.

2. O segundo grupo, também maciçamente asiático, inclui a Malásia e a Tailândia, bem como, em nível menos avançado, a China e, em grau menor, a Índia. São os países que há várias décadas vêm se industrializando de modo acelerado, aumentando a proporção de manufaturas no emprego, na produção e nas exportações, ao mesmo tempo que estão transformando sua estrutura, passando dos produtos intensivos em mão de obra e recursos naturais para os artigos de média e alta tecnologia.

3. O terceiro abrange os países que se integraram nas redes internacionais de produção mediante a concentração em operações intensivas em mão de obra destinadas à montagem de produtos cujos insumos são em grande parte importados. O México e as Filipinas, bem como, mais recentemente, países do Caribe e da América Central signatários de acordos de livre-comércio com os Estados Unidos destacam-se na categoria. Tais economias tiveram rápido aumento no emprego industrial. Outra característica do grupo é o veloz aumento de exportação de manufaturas. Não obstante, esses países vêm apresentando desempenho modesto em termos de investimento, de valor agregado em manufaturas, de crescimento da produtividade e de crescimento econômico de maneira geral.

4. A quarta classe é a dos países que alcançaram um nível razoável de industrialização, mas se revelaram incapazes de sustentar um processo dinâmico de aprofundamento industrial em contexto de crescimento rápido. É o caso da Argentina e, em nível muito menos grave, do Brasil. Nesses países, tem sido pobre o desempenho do investimento, a indústria vem perdendo importância relativa no emprego total e no valor adicionado, o crescimento da produtividade resultou mais da redução da mão de obra que da acumulação rápida e do progresso técnico, o upgrading industrial é ainda limitado e as exportações continuam dominadas por produtos primários e manufaturas de baixo valor agregado. Nessas economias, o avanço em certas indústrias, como a aeronáutica e de automóveis, não teve a profundidade e o vigor necessários para disseminar-se pelo restante do tecido industrial e para estabelecer um processo dinâmico e de alta tecnologia na indústria como um todo.

5. O quinto grupo é o de países que obtiveram crescimento forte e sustentado mediante a intensificação da exploração de seus recursos naturais abundantes por meio de um ritmo acelerado de acumulação de capital. O exemplo mais notável é o do Chile. No entanto, essas economias têm demonstrado desempenho fraco em termos de valor agregado em manufaturas e de exportações industriais, persistindo nelas elevado desemprego. Parecem limitadas as perspectivas de mudança estrutural adicional e de futuro crescimento de produtividade na base exclusiva de estratégia fundamentada nos recursos naturais.


O que emerge dessa análise comparativa?

O contraste entre o Leste Asiático e a América Latina é marcante. 

Os maiores países da América Latina (Argentina, Brasil, México) situam-se em grupos sem dinamismo em industrialização, mudança estrutural e aumento da produtividade, ao passo que a maioria das economias do Leste Asiático se encontra em vários estágios de industrialização de êxito.

Persistem, portanto, as fraquezas estruturais que, a partir dos anos 1980, deram impulso a radicais mudanças de política na América Latina. Apesar dos avanços indiscutíveis, não há como negar que as reformas de políticas não conseguiram criar as condições necessárias para iniciar um rápido processo de acumulação de capital e de transformação tecnológica capaz de reestruturar as economias latino-americanas com vistas a enfrentar os desafios de integração no sistema globalizado de comércio. Tudo indica que existe uma relação nítida entre o prosseguimento e o adensamento da industrialização e a criação dessas condições.

Não se poderia afirmar, ao contrário, que a desindustrialização é a conseqüência positiva do abandono da política de substituição de importações e da adoção de uma estratégia voltada para as exportações, permitindo a melhor alocação de recursos a setores nos quais essas economias são mais competitivas, como no de recursos naturais em agricultura e mineração?

Essa afirmação seria verdadeira se o declínio relativo da indústria tivesse coincidido com a aceleração significativa do crescimento, o que de fato ocorreu no Chile, mas não na Argentina, no Brasil e no México. Além disso, a comparação com economias européias ricas em recursos naturais como algumas da Escandinávia indica que, até mesmo no Chile, a porcentagem do emprego industrial no final dos anos 1990 se situava apenas entre a metade e um terço do nível atingido pelos escandinavos, quando estes se encontravam em patamares de renda comparáveis. Nessas economias escandinavas ricas em recursos naturais, essa porcentagem só começou a cair a partir de um nível de renda muito superior ao que sucedeu na América Latina.

Isso significa que não existiriam exemplos de países que alcançaram o desenvolvimento pleno sem industrialização, exclusivamente na base da exploração eficiente de recursos naturais?

Na verdade, a experiência histórica confirma que as economias de países como a Austrália, o Canadá e alguns dos escandinavos, que utilizaram mais amplamente as exportações de produtos primários para atingir altos níveis de renda, passaram todas por períodos de forte desenvolvimento e diversificação da indústria como componentes essenciais de sua estratégia de crescimento. Mesmo as cidades-Estados do nosso tempo – Hong Kong e Cingapura –, hoje predominantemente economias de serviços, recorreram no início e por longo tempo à industrialização a fim de superar a estreiteza do mercado nacional e deslanchar o processo de desenvolvimento.


De que maneira opera a industrialização nesse processo?

A longo prazo, são as conquistas de produtividade que asseguram o êxito econômico, e não apenas a acumulação de capital por si mesma. Um processo virtuoso de acumulação e crescimento sustentado está sempre associado a mudanças estruturais na produção e no emprego como resultado tanto da expansão e diversificação das atividades econômicas, passando da agricultura à indústria e desta aos serviços, quanto da evolução para atividades de maior valor adicionado dentro de cada setor, mediante a introdução de novos produtos e processos.

Há diferenças sensíveis entre os vários setores em termos dos respectivos potenciais para o progresso técnico e para o crescimento da produtividade. A importância de estabelecer uma ampla base industrial deriva justamente do grande potencial da indústria para um forte crescimento da produtividade e da renda. Esse potencial provém, do lado da oferta, da predisposição da indústria para desenvolver economias de escala, para a especialização e o aprendizado e, do lado da demanda, de condições globais de mercado e de preços habitualmente mais estáveis e favoráveis do que para os produtos primários, sujeitos a freqüentes oscilações e com certa tendência a um declínio secular. Trabalhos de Nicholas Kaldor e Simon Kuznets demonstraram a existência de estreita correlação entre as taxas de crescimento da industrialização e da produtividade, assim como entre a aceleração do crescimento e o deslocamento do fator trabalho, do setor primário, de baixa produtividade, para o industrial, de produtividade mais elevada. Não se deve esquecer, aliás, que a agregação de valor a produtos primários da agropecuária e da mineração se faz geralmente mediante processos industriais, daí se originando denominações como agroindústria, indústria agroalimentar etc.

Mas se as vantagens de manter uma forte base industrial são tão evidentes, como se explica que os países latino-americanos tenham se resignado a sacrificá-la em muitos casos?

A explicação reside, em última análise, no impacto da crise da dívida dos anos 1980, verdadeiro divisor de águas que desviou, de maneira duradoura, muitos países da trajetória de desenvolvimento que até então vinham seguindo. Os latino-americanos tiveram de adotar drásticas mudanças de política econômica, no esforço para reduzir os níveis de endividamento e controlar inflações que ameaçavam deteriorar em hiperinflações. Embora tenha sido inegável o êxito em atingir alguns desses objetivos, as reformas nunca foram capazes de fazer o nível de investimento retornar à fase pré-crise. De modo geral, a América Latina parece ter estabilizado seu nível de formação de capital em torno do investimento por ano de apenas 20% ou menos do PIB, significativamente inferior aos 25% considerados como o ideal para economias em estágio intermediário de desenvolvimento e igualmente muito abaixo da média do investimento prevalecente na fase pré-crise.

Tal situação de debilidade macroeconômica, de investimento insuficiente e de instabilidade permanente de taxas de juros e de câmbio preparou mal as economias latino-americanas para o “choque de competição” decorrente da liberalização comercial e financeira simultânea ao processo de ajuste. Inúmeros setores, especialmente na indústria manufatureira, não foram capazes, por causa do estado crítico em que se encontravam, de reagir à concorrência de produtos importados no momento em que perderam a proteção. 

O processo latino-americano de abertura de choque, conduzido em fase de crítica precariedade da situação macroeconômica, contrasta com o das economias asiáticas, muito mais gradual, progressivo, seguro e realizado a partir de posição de força, por economias capazes de investir 30% ou mais do PIB anualmente e bafejadas por juros extremamente baixos, freqüentemente subsidiados, por taxa de câmbio desvalorizada, carga tributária pequena e mínimos encargos trabalhistas e previdenciários.


Não é verdade, então, que a situação macroeconômica da região melhorou?

Não até o ponto desejável. De fato, uma saudável macroeconomia exige não apenas estabilidade de preços, mas outras condições indispensáveis para propiciar níveis elevados de investimento. Muitas das condições que exercem forte influência nas decisões de investimento e de alocação de recursos, incluindo preços-chaves, tais como a taxa de câmbio, a taxa de juros e os salários reais, de grande impacto na demanda agregada, têm sido extremamente instáveis no continente. 

Isso se deve, em parte, ao aumento da instabilidade do sistema internacional de pagamentos e à volatilidade externa associados com choques financeiros e comerciais. Por outro lado, alguma responsabilidade cabe igualmente à perda de autonomia em matéria de política macroeconômica resultante da rápida liberalização e da estreita integração nos mercados financeiros globais. Além disso, em lugar de get the prices right, as forças de mercado tenderam a manter as taxas de juros e de câmbio em níveis que impediram a rápida acumulação de capital e a mudança tecnológica.

Em outras palavras, a nova estratégia econômica fracassou em produzir um meio ambiente macroeconômico apropriado para encorajar investidores e empresas, apoiando-os na criação e expansão da capacidade produtiva e no aprimoramento da produtividade e da competitividade internacional.


Não se poderia descrever o que aconteceu na América Latina como mais uma manifestação do processo de “destruição criativa” de Schumpeter?

Seria difícil argumentar nesse sentido. Durante a fase de ajustamento pós-crise da dívida, estima-se que cerca de 7 mil firmas chilenas tenham desaparecido, a maioria de porte médio. Na Argentina, esse número foi de l5 mil. Muitas foram substituídas por grandes empresas estrangeiras cujos setores de engenharia e de pesquisa e desenvolvimento se encontravam no país de origem. 

Algo similar ocorreu no Brasil com a aquisição por firmas estrangeiras de boa parte do setor de autopeças (Cofap, Metal Leve) e do setor eletrônico e de equipamento de telecomunicações sediado em Campinas. De novo, em muitos casos, o setor de pesquisa foi radicalmente reduzido ou teve sua natureza alterada, passando a ocupar-se apenas da adaptação da tecnologia da matriz a condições locais, o que se chama no jargão de “tropicalização” da tecnologia. Engenheiros de pesquisa foram reciclados em gerentes de vendas. Um estudo de Mario Cimoli e Jorge Katz observa que, em 1974, o lançamento do Taurus pela Ford Argentina demandou 300 mil horas de trabalho de uma equipe de 120 engenheiros, ao passo que hoje, para produzir o world car, a Ford não emprega nenhum engenheiro na Argentina. O que houve, portanto, foi que a parte de “destruição” ocorreu na Argentina, enquanto a parte mais interessante, a da “criação”, foi transferida para o país exportador ou sede da empresa transnacional.

O problema foi agravado por algumas das privatizações de empresas estatais que, em certos países, eram responsáveis, juntamente com universidades e instituições públicas, por 80% dos gastos em pesquisa tecnológica, em áreas como telecomunicações e energia, como era o caso do Brasil.

Frequentemente, repetiu-se aqui o padrão de muita destruição e pouca criação. 

O balanço líquido foi um retrocesso na geração local de tecnologia e no aumento de uma dispendiosa dependência tecnológica em relação ao estrangeiro. 

Essa foi uma das razões que levaram a uma mudança na composição da produção e das exportações de países da região, que se concentraram mais ainda do que no passado nos produtos oriundos de recursos naturais, distanciando-se dos setores com maior potencial de aumento da produtividade. 

Não é de admirar, nessas condições, que, fora exemplos esporádicos como o da indústria aeronáutica, cuja existência, aliás, se deve a uma política de Estado, seja extremamente limitada a oferta de países como o Brasil em matéria de manufaturas de alta tecnologia e valor agregado capazes de competir com os produtos asiáticos em mercados altamente competitivos como os dos Estados Unidos e dos países europeus.


Que tipos de indústria conseguiram sobreviver a essas condições adversas?

Como é sabido, muitas das indústrias de ponta, responsáveis pelos produtos mais dinâmicos do comércio mundial – computadores, componentes eletrônicos, máquinas e equipamentos de escritório, química fina, fármacos –, praticamente desapareceram do panorama produtivo da América Latina, salvo sob o aspecto de linhas de montagem. 

O que sobrou foi basicamente: a) indústrias de processamento de recursos naturais a fim de produzir commodities industriais, tais como papel, celulose, suco de laranja, farelos e óleos vegetais, ferro, aço, alumínio, metais, cimento; b) indústrias de alimentos, de material de limpeza, cosméticos, de móveis etc.; c) linhas de montagem de equipamento eletrônico, aparelhos de TV e vídeo, de telecomunicações, como os telefones celulares; d) indústrias têxteis, de vestuário e calçados, crescentemente pressionadas pela concorrência chinesa; e) petroquímica em alguns países, graças à significativa proteção tarifária; f) indústria de automóvel e de equipamento de transporte, objeto de tratamento protetivo especial, às vezes no contexto de acordos sub-regionais como o Mercosul. Fora poucas exceções, como a da indústria automobilística, esses não são em geral os tipos de setor que desempenham papel decisivo para aumentar a competitividade internacional por meio da pesquisa e desenvolvimento de produtos e do progresso tecnológico.

No caso do Brasil, o panorama é mais diversificado, já que o país foi capaz de preservar uma estrutura industrial bem mais ampla e completa do que na maioria das outras nações do continente. Essa estrutura, felizmente para nós, inclui até mesmo um setor bastante razoável de bens de capital, maquinaria e equipamento. 

Alguns ou muitos desses setores sofrem hoje outro tipo de “choque de competição”, o da concorrência chinesa, que opera como uma espécie de segunda geração de pressões e desafios em relação ao primeiro impacto da liberalização dos anos 1990. A sobrevivência até o instante de uma base industrial mais diversificada no Brasil é uma razão a mais para identificar políticas e medidas de indiscutível qualidade econômica, que sejam capazes de evitar que a indústria, sobrevivente do primeiro choque, não se afogue agora no segundo.

O processo de rápida liberalização produziu na América Latina dois padrões específicos, mas contrastantes na especialização industrial. Os países mais estreitamente ligados ao mercado dos Estados Unidos, seja pela vizinhança geográfica, seja por acordos comerciais, se concentraram nas indústrias de linha de montagem do tipo maquiladoras, que produzem quase exclusivamente para o mercado norte-americano ou para reexportação para terceiros a partir dos Estados Unidos, criando empregos de baixa especialização e modestos salários. 

Por outro lado, as economias da América do Sul, tais como as da Argentina, do Chile e, com as qualificações e diferenças expostas, no exemplo particular do Brasil, expandiram as indústrias baseadas em recursos naturais, aumentando a intensidade em capital de tais atividades, mas sem impacto correspondente na geração de empregos. 

Ambos os tipos de atividade possuem conteúdo relativamente baixo de valor agregado interno e nenhuma delas proporciona o gênero de transformação da produção nacional e do padrão exportador capaz de fazer do comércio um motor de crescimento.


O que fazer?

Acima de tudo, evitar fórmulas simplistas e simplórias. Por exemplo, a do famoso “choque de competitividade” de vez em quando ressuscitada por assessores do Ministério da Fazenda e gente vinculada ao mercado financeiro. A última versão foi a da redução substancial das tarifas industriais. Embora pareça supérfluo, não custa repetir que é absurdo falar de “choque de competitividade” no momento em que o setor produtivo enfrenta no Brasil condições incomensuravelmente mais adversas do que os concorrentes potenciais em todos os fatores-chaves determinantes da competitividade internacional, a saber, a taxa de juros, a taxa de câmbio, a carga tributária e o custo de transação resultante da infraestrutura de serviços.

Um fenômeno de causas tão complexas e variadas como é a desindustrialização precoce só poderá ser combatido por terapêutica igualmente diversificada, que contenha ingredientes capazes de atacar as raízes macroeconômicas descritas, assim como os problemas de diferente natureza aqui exemplificados na área de ciência e tecnologia, de pesquisa e desenvolvimento de produtos, de inovação etc. 

Identificar os diversos componentes de tal terapêutica foi precisamente o objetivo do seminário realizado na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em 28 de novembro de 2006. Na ocasião, um dos mais importantes objetivos foi estimular um esforço sistemático e constante com vistas a valorizar o papel transformador e de liderança da indústria manufatureira no processo de desenvolvimento, reatando com a tradição de pioneiros como Roberto Simonsen e Euvaldo Lodi. Para isso, é indispensável reagir contra o verdadeiro preconceito que, consciente ou inconscientemente, se criou contra o setor, voltando a dar-lhe condições normais para poder concorrer internacionalmente e sobreviver no âmbito interno.

Um elemento indispensável em tal sentido é uma estratégia para as negociações internacionais que não aumente ainda mais as dificuldades enfrentadas em função das condições hostis de juros, câmbio e tributos internos. Esse perigo existe não só nas negociações de acordos de livre-comércio como nas da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC). Nestas últimas, ficou claro que a tática dos usual suspects em matéria de protecionismo agrícola (França et caterva) é repetir o bem-sucedido jogo utilizado na Rodada Uruguai: alegar a impossibilidade de qualquer movimento em agricultura se não houver antes concessões substanciais do Brasil, principalmente, da Índia e de alguns outros em Non-Agricultural Market Access (Nama), isto é, em produtos industriais (e também em serviços). 

Conforme se sabe, pagamos, naquela ocasião, um preço altíssimo em reduções tarifárias industriais, propriedade intelectual, medidas de investimento relacionadas ao comércio (como a proibição do conteúdo local ou índice de nacionalização no processo manufatureiro), em perda de flexibilidade ou policy space para adotar políticas de estímulo à indústria, de amplo e irrestrito uso pelos países avançados quando ainda se encontravam em fase de industrialização. Nossos ganhos em agricultura, em compensação, foram modestos e mais conceituais do que concretos.

No momento, algumas das fórmulas propostas em Genebra por países desenvolvidos implicariam reduções, da parte de países em desenvolvimento, de mais de dois terços na média ponderada das tarifas aplicadas e de mais de três quartos dos níveis atuais da média ponderada de suas tarifas consolidadas. 

Conforme tem sido demonstrado nos estudos dos economistas da Unctad, Santiago Fernández de Córdoba, Sam Laird e David Vanzetti, tais reduções constituiriam cortes incomparavelmente mais profundos do que os efetivados pelos principais países ricos ao longo dos trinta anos após a Segunda Guerra Mundial. A experiência histórica indica que, no processo de industrialização, o que conta não é tanto o nível médio das tarifas, mas seu perfil setorial. A tarifa ideal é a desenhada para proteger o processo de aprendizagem e de aquisição de competitividade nos setores dinâmicos, não nas indústrias em declínio. 

Um dos fatores que diferenciaram Coreia do Sul e Taiwan e explicam o êxito da industrialização dessas duas economias foi justamente uma estrutura tarifária racional inspirada no princípio da proteção seletiva e temporária (Yilmaz Akyuz, The WTO negotiations on industrial tariffs: what is at stake for developing countries [As negociações da OMC sobre tarifas industriais: o que está em jogo para os países em desenvolvimento], TWN, Penang, 2005).

Essa verdade nos aconselha extrema cautela nas atuais negociações, uma vez que as fórmulas mais favorecidas pelos negociadores representariam perdas substanciais e súbitas de proteção em setores como o automobilístico e o eletrônico, exatamente os que apresentam as características desejáveis de dinamismo e alta capacidade multiplicadora de efeitos benéficos para a indústria como um todo. 

Nota: Salvo algumas observações pessoais, sobretudo em relação ao Brasil, o presente trabalho é, em grande parte, extraído do 2003 Trade and Development Report, da Unctad, época em que desempenhei as funções de secretário-geral da organização. Busquei aqui organizar e sintetizar as principais teses e demonstrações do relatório, com ênfase nos capítulos IV (Economic growth and capital accumulation), V (Industrialization, trade and structural change) e VI (Policy reforms and economic performance: the Latin American experience). O mérito do trabalho cabe aos redatores do relatório, entre os quais o Dr. Yilmaz Akyuz, então diretor da Divisão sobre Globalização e Estratégias de Desenvolvimento e chief economist da Unctad, e a seus principais colaboradores, Richard Kozul-Wright e Jorg Meyer.

06 de Março de 2014 

Palavras chave: Brasil, desenvolvimento, indústria, desindustrialização, PIB, BRICS.


Notas do editor do BLOG:
Alguns trechos foram assinalados (hachurados) por iniciativa do editor do BLOG justamente para realçar a comunhão entre suas idéias e as do embaixador Ricupero. 

Vide, também neste BLOG, no mesmo MARCADOR: DESINDUSTRIALIZAÇÃO/DESSUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES, artigo de autoria de Érico Lins Leite, publicado no Boletim de Conjuntura do Instituto de Economia da UFRJ, ainda em outubro de 1993, em que expressa sua preocupação com o processo que denominou “DESSUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES”.




















O PROCESSO DE “DESSUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES” - Érico Lins Leite


O tema DESINDUSTRIALIZAÇÃO emerge com força face ao fraco desempenho da indústria brasileira, como sugerem as mais recentes estatísticas sobre produção industrial e artigos publicados na imprensa, ante os crescentes e sucessivos déficits observados no balanço de pagamentos em conta corrente e as previsões de elevado resultado negativo na balança comercial para este ano de 2014.

Nada obstante, o tema já nos chamava atenção há um pouco mais que vinte anos.

O Artigo a seguir foi publicado pela primeira vez em outubro de 1993, no periódico BOLETIM DE CONJUNTURA do Instituto de Economia Industrial da UFRJ, oportunidade em que alertávamos sobre o início de um processo de forte incremento das importações e baixo desempenho das exportações. Antevendo o que poderia ocorrer mais tarde em conseqüência do apequenamento da indústria brasileira que se avizinhava e do retrocesso do País à condição de exportador de produtos primários ou de baixo grau de elaboração, ousamos, naquela época, chamarmos esse pernicioso processo de “DESSUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES”.

Parece que a “DESSUBSTITUIÇÃO” foi concluída... Recordemos o Artigo de 1993.

Acrescentamos ao texto original pequenas Notas de Rodapé visando melhor entendimento dos novos leitores acerca de órgãos, normas e procedimentos vigentes à época assim como realçamos palavras ou trechos que queremos chamar atenção.

BALANÇO DE PAGAMENTOS, COMÉRCIO EXTERIOR E CÂMBIO

Érico Lins Leite*

De janeiro a setembro do corrente ano, o intercâmbio comercial brasileiro totalizou US$ 47,6 bilhões, superando em 17,6% a corrente de comércio alcançada em idêntico período de 1992. As exportações se elevaram em 11,8%, totalizando US$ 28,9 bilhões, enquanto as importações, que somaram US$ 18,7 bilhões, cresceram 27,9%. Cabe advertir que as importações de petróleo em bruto recuaram 29% em 1993, comparativamente ao ano anterior – enquanto as dos demais produtos avançaram 38,8%.

Quanto aos saldos comerciais, nos nove primeiros meses de 1993, vêm apresentando desaceleração, tendo recuado 9% em confronto com o saldo obtido entre janeiro e setembro de 1992.

QUADRO 1
BALANÇA COMERCIAL
1992-1993
Jan/Set – US$ Bilhões - FOB
Período
Jan/Set
Exportação
Importação
Saldo
Total
Petróleo
Demais
C/ Petróleo
S/Petróleo
1992
25,9
14,6
2,4
12,2
11,3
13,7
1993
28,9
18,7
1,7
17,0
10,3
11,9
Fonte: MICT/SECEX
Elaboração Boletim de Conjuntura


Não obstante a intensidade do crescimento das importações efetivas (exceto petróleo) em 1993, o incremento das importações autorizadas [1] entre janeiro e agosto de 1993/1992 é ainda mais significativo, saltando de US$ 12,9 bilhões para US$ 26 bilhões.

Como é sabido, o intenso crescimento das importações está associado ao ambiente de plena liberdade para importar e às baixas tarifas aduaneiras de um lado e, de outro, à conjuntura de sobrevalorização cambial e às taxas positivas de crescimento do PIB no corrente ano.

Com o objetivo de contribuir para uma maior compreensão desse fenômeno e de suas implicações, o BOLETIM DE CONJUNTURA apresenta, nesta edição um estudo sobre o avanço das importações brasileiras a nível de setores de demanda e por seções e capítulos da Nomenclatura de Mercadorias, procurando identificar os produtos e setores que mais acentuadamente se têm beneficiado da abertura comercial.

Questões relativas a reservas internacionais, captação de recursos externos, câmbio contratado, unificação dos mercados cambiais e renegociação da dívida externa são, também enfocadas na presente edição do BOLETIM DE CONJUNTURA.

O Avanço das Importações

Embora a Balança Comercial brasileira continue apresentando resultados superavitários em razão da sustentação das vendas externas, os saldos tendem a diminuir em função da vertiginosa expansão, superior a 100%, que vem ocorrendo com as autorizações de importação concedidas ao longo do ano, sobretudo a partir do segundo semestre (vide Tabela 1).

Em 1990 foi processada ampla reforma administrativa na organização institucional do comércio exterior do País consubstanciada na extinção do CONCEX, da CACEX e da CPA e na criação do Departamento de Comércio Exterior (DECEX), que desorganizou o sistema, e dificultou a coordenação e elaboração das políticas comerciais.[2] Também em 1990 foram eliminados os controles quantitativos e seletivos sobre as importações, extintos os prazos mínimos de pagamento das importações, eliminadas as anuências prévias e as concessões setoriais de benefícios fiscais. A partir de então, o gerenciamento do comércio exterior brasileiro pautou-se nos Programas de Competitividade Industrial (PCI) e de Qualidade e Produtividade (PBQP) e na redução tarifária.

Como se sabe, a abertura comercial implementada a partir do início dos anos 90 objetivava propiciar um ambiente de maior competição interna mediante a exposição da indústria brasileira à concorrência internacional, e viabilizar a reestruturação do parque industrial brasileiro.[3]

TABELA 1
IMPORTAÇÃO AUTORIZADA (EXCETO PETRÓLEO BRUTO)
VALORES ACUMULADOS – COMPARATIVO 1992-1993
US$ Mil - FOB
Períodos
Valores Acumulados
Variação Relativa  93/92
1992
1993
Janeiro
1.156.600
1.960.200
70,2%
Fevereiro
2.793.800
4.330.700
55,0%
Março
4.233.400
7.869.600
85,9%
Abril
5.868.300
10.772.700
83,6%
Maio
7.392.600
14.391.500
94,7%
Junho
9.083.300
16.712.300
84,0%
Julho
11.126.100
21.918.000
97,0%
Agosto
12.986.900
26.005.000
100,2%
Fonte: Ministério da Indústria, do Comércio  e do Turismo  – MICT
Secretaria de Comércio Exterior – SECEX
Departamento Técnico de Intercâmbio Comercial – DTIC
Elaboração Boletim de Conjuntura
1993 – Dados Preliminares

Esses fatores, aliados à retomada das negociações da dívida externa e à expectativa de que a Rodada Uruguai do GATT resultasse na liberalização generalizada do comércio internacional, determinaram a eliminação das medidas e práticas do controle do comércio até então vigentes.[4]

Embora livres de controles, as importações, até 1992, cresceram lentamente sem dúvida em função da recessão econômica que o País vinha atravessando – com taxas de crescimento PIB de -4,3%, 1,0 e -0,8%, respectivamente, em 1990, 1991 e 1992 – e em razão de não haver sido finalizado o rebaixamento tarifário iniciado em 1991.

O quadro mudou no presente ano pela combinação dos seguintes fatores: a recuperação da atividade econômica, a apreciação real de pouco mais de 10% na taxa de câmbio efetiva (em relação ao ano passado) e, finalmente a conclusão do programa de rebaixamento tarifário, que reduziu a tarifa média para 14% e a modal para 20%, conforme se observa na Tabela 2.

TABELA 2
EVOLUÇÃO DA TARIFA ADUANEIRA DO BRASIL
1989-2003
Ano
Vigência
Alíquota (%)
Máxima
Média
Moda
Mediana
Desvio-Padrão
1989
85
35,5
40
35
20,1
1990
105
32,2
40
30
19,6
1991
A partir de 15/02/91
85
25,3
20
25
17,4
1992
01/01/92 a 30/09/92
65
20,8
20
20
14,2
1993
01/10/92 a 30/06/93
55
16,5
20
20
10,7
1994
A partir de 01/07/93
40
14,0
20
20
8,2
Fonte: Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo – MICT
Secretaria do Comércio Exterior – SECEX
Departamento Técnico de Tarifas – DTT
Elaboração Boletim de Conjuntura.


Na nova situação, 97% dos itens que compõem a pauta brasileira de importações possuem alíquotas de, no máximo, 20%, sendo que 19% do total estão isentos de taxação. Apenas 3% do total estão na faixa de 25% a 40% de alíquota ad valorem (ver Tabela 3).


TABELA 3
DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIA DA ATUAL TARIFA ADUANEIRA DO BRASIL
(VIGÊNCIA DESDE 01/07/93)
Alíquota (%)
Nº de Itens Tarifários
Nº Acumulado de Itens Tarifários
Participação Percentual Acumulada
0
2.514
2.514
19,2%
5
121
2.635
20,1%
10
2.440
5.075
38,7%
15
1.349
6.424
49,0%
20
6.343
12.767
97,3%
25
42
12.809
97,7%
30
146
12.955
98,8%
35
130
13.085
99,8%
38
1
13.086
99,8%
40
31
13.117
             100,0%
Fonte: MICT, SECEX, DTT
Elaboração Boletim de Conjuntura


Apesar das condições favoráveis acima referidas, e contrariando as expectativas de muitos, as importações efetivas de bens de capital elevaram-se em modestos 15% no primeiro semestre do corrente ano, em comparação com igual período de 1992. Assim mesmo, devido à aquisição de uma plataforma para prospecção de petróleo cujo valor representou mais da metade do incremento de US$ 293 milhões observado nas importações do setor.

O único destaque positivo foi o item relativo a bens de informática, cujo aumento de US$ 95 milhões pode ser atribuído, sem dúvida, ao fim da reserva de mercado para essa categoria de bens, ocorrido em fins de 1992. De resto, à parte uma pequena elevação nas compras de máquinas e acessórios industriais (US$ 61 milhões) e equipamentos de transporte (US$ 62 milhões), as importações dos demais bens de capital sofreram contrações ou acréscimos sem qualquer significância.

Em contrapartida, os dados indicam que os setores que tem se aproveitado em larga escala da abertura comercial são os bens de consumo duráveis, as matérias-primas e os produtos intermediários, cujas importações têm-se incrementado vertiginosamente no presente ano.

Entre janeiro e julho de 1993, comparativamente a idêntico período de 92, as importações de bens de consumo duráveis elevaram-se em 70%, liderados pelos automóveis, suas partes e peças, objetos de uso pessoal, aparelhos domésticos, móveis e outros equipamentos de casa, totalizando US$ 1.600 milhões.

As importações de matérias-primas e produtos intermediários somaram, no mesmo período US$ 7.200 milhões, com acréscimo de 40% em relação a janeiro/julho de 92.

Apesar do aumento superior a 200% observado nas importações de combustíveis elaborados, inclusive álcool, o setor de combustíveis e lubrificantes foi o único que, no período de janeiro/julho de 93, apresentou decréscimo nas aquisições externas (-11,6%). Isso devido às sucessivas reduções nas aquisições de petróleo bruto e à sua substituição por importações de naftas e outras matérias-primas intermediárias do petróleo, cujos preços encontram-se em baixa no mercado internacional.

As importações desagregadas a níveis de setores de demanda, relativas aos períodos janeiro/junho e janeiro/julho de 1993 e 1992 encontram-se na Tabela 4.


TABELA 4
IMPORTAÇÃO EFETIVA,
POR SETORES DE DEMANDA
1992-1993 – US$ Milhões - FOB
Setores de Demanda
Janeiro – Junho
Variação
Janeiro – Julho
Variação
1992
(A)
1993
(B)
Absoluta (B-A)
Relativa (B/A)
1992
(C)
1993
(D)
Absoluta (D-C)
Relativa (D/C)
1.Bens de Capital
1.999
2292
293
14,7%
2385
2.827
442
18,5%
2. Mat. Primas e  Prod. Int.
4.282
5.811
1.529
35,7%
5.157
7.228
2.071
40,2%
3.Bens de Consumo
3.1 Duráveis
3.2 Não Duráveis
921
1.293
372
40,4%
1.153
1.620
467
40,5%
393
636
243
61,8%
476
811
335
70,4%
528
657
129
24,4%
677
809
132
19,5%
4. Total (1+2+3)
7.202
9.396
2.194
30,5%
8.695
11.675
2.980
34,4%
5. Combustíveis e   Lubrificantes
2.178
1.853
-325
-14,9%
2.625
2.320
-305
-11,6%
6. Total (4+5)
9.380
11.429
1.869
19,9%
11.320
13.995
2.675
23,6%
Fonte: Ministério da Fazenda – MF
Secretaria de Receita Federal – SRF
Elaboração Boletim de Conjuntura


A Disparada das Importações Autorizadas

As estatísticas de importações autorizadas nos permitiram um exame das compras externas com maior nível de desagregação, e com atualização até agosto de 1993. Tendo presente a advertência de que são autorizações que podem eventualmente não se converter em importações efetivas, ou então ser adiadas, vejamos a tendência apontada pelos dados.

Na Tabela 5, onde são comparadas as importações autorizadas acumuladas de oito meses em 1993/1992, por seções da Nomenclatura Brasileira de Mercadorias (NBM/SH), observa-se incremento generalizado, exceto na seção IX, que reúne madeiras, cortiças e suas obras, com recuo de 31%.

Na Tabela 6 são relacionadas algumas importações dos produtos mais significativos englobados nas seções V, VI, VII e XI. Dentre os produtos minerais (seção V), destacam-se as importações autorizadas de Naftas, com incremento da ordem de 1.900%, além de expressivos aumentos nas compras de óleo diesel e óleo combustível (fuel oil), compatíveis com a expansão do consumo ao longo de 1993, seja para veículos ou para fins industriais.

Na seção VII, o destaque cabe ao item relativo a borracha e produtos de borracha, cujo crescimento foi de 250% e, na seção XI, que reúne desde o algodão em rama até artigos de vestuário, aviamentos etc, incremento médio de 260%.

Em função da extensão da reserva de mercado para bens de informática, a partir do final de outubro de 1992, e das alíquotas ad valorem do Imposto de Importação na faixa de 10% a 35% as importações autorizadas de computadores e acessórios elevaram-se, no período janeiro-agosto 93/92, de US$ 420 milhões para US$ 1.100 milhões, significando um crescimento dessas compras da ordem de 150%, conforme se observa através dos dados da Tabela 7.


TABELA 5
IMPORTAÇÃO AUTORIZADA,
POR SEÇÕES DA NOMENCLATURA BRASILEIRA DE MERCADORIA, EXCETO PETRÓLEO BRUTO VALORES ACUMULADOS – 1992-1993 – US$ Milhões - FOB
Seções
Descrição
Valores Acumulados Jan/Ago
Valor Rel. 93/92 (%)
1992
1993
I
Animais Vivos e Produtos do Reino Animal
224,1
489,7
119%
II
Produtos do Reino Vegetal
852,7
1.591,9
87%
III
Gorduras, Óleos, Ceras Animais e Vegetais
83,6
157,0
88%
IV
Produtos Alimentícios, Bebidas e Fumo
175,2
396,4
126%
V
Produtos Minerais
1.056,0
1.956,5
85%
VI
Produtos das Indústrias Químicas e Conexas
2.224,9
3.240,3
46%
VII
Plásticos e Borracha e suas Obras
545,0
1.377,8
153%
VIII
Peles, Couros, Peleteria e Obras etc
132,1
182,1
38%
IX
Madeira, Cortiça e suas Obras etc
68,5
47,5
-31%
X
Pastas de Madeira, Papel e suas Obras etc
204,8
356,9
74%
XI
Matérias Têxteis e suas Obras
399,4
1.457,8
265%
XII
Calçados, Chapéus etc
15,9
41,1
158%
XIII
Obras de Pedra, Cerâmica, Vidros etc
126,7
196,2
55%
XIV
Pérolas Naturais, Pedras Preciosas etc
31,2
74,0
137%
XV
Metais Comuns e suas Obras
673,9
837,0
24%
XVI
Máquinas e Aparelhos, Material Elétrico etc
Cap. 84 – Equipamentos Mecânicos
Cap. 85 – Equipamentos Elétricos
4.144,8
2.653,3
1.491,6
7.609,9
4.375,3
3.234,6
84%
65%
117%
XVII
Material de Transporte
1.402,1
4.596,4
228%
XVIII
Instrumentos e Aparelhos Científicos
5.557,9
994,5
78%
XIX
Armas e Munições
0,9
94,7
10138%
XX
Diversos (Móveis, Brinquedos etc)
60,6
295,7
388%
XXI
Objetos de Arte, Coleção e Antiguidades
0,4
2,7
5902%
Transações Especiais
6,5
8,9
37%
Total das Seções
12.986,9
26.005,0
100%
Fonte: MICT – SECEX
Elaboração Boletim de Conjuntura
1993 – Dados Preliminares


TABELA 6
IMPORTAÇÃO AUTORIZADA
PRODUTOS MINEIRAIS, QUÍMICOS, PLÁSTICOS, BORRACHA, MATÉRIAS TÊXTEIS
VALORES ACUMULADOS 1992-1993 – US$ Milhões - FOB
Especificação
Valores Acum. – Jan/Ago
Val. Rel. 93/92(%)
1992
1993
1.  Produtos Minerais
    1.2. Comb., Óleos e Ceras Min.
    1.2.1. Óleo Diesel
    1.2.2. Fuel Oil
    1.2.3. Naftas
1.056,0
768,4
106,4
12,9
26,9
1.956,5
1.657,9
339,6
114,5
542,2
85%
116%
219%
788%
1.916%
2. Prod. das Ind. Quím. e Conexas
    2.1 Prod. Quím. Orgânicos
2.224,9
977,1
3.240,3
1.483,5
46%
52%
3. Plástico e Borracha e suas Obras
    3.1 Plásticos e suas Obras
    3.2 Borracha e suas Obras
545,0
336,8
208,2
1.377,8
646,2
731,5
153%
92%
251%
4. Mat. Têxteis e suas Obras
    4.1 Algodão
    4.2 Outras Fibras Têxteis Vegetais
    4.3 Filamentos Sint. ou Artificiais
    4.4 Fibras Sint., Descontínuas
    4.5 Tecidos Impregnados, Revestidos
    4.6 Vestuário de Malha
    4.7 Vestuário, exceto de Malha
    4.8 Outros Artefatos Têxteis Confeccionados
399,4
154,6
33,0
82,8
27,8
24,6
5,6
17,9
6,3
1.457,8
655,3
75,8
201,8
197,5
110,6
12,3
60,7
86,6
265%
324%
130%
144%
610%
350%
120%
239%
1.275%









  Fonte: MICT – SECEX.
    Elaboração Boletim de Conjuntura.

TABELA 7
IMPORTAÇÃO AUTORIZADA
COMPUTADORES E ACESSÓRIOS
VALORES ACUMULADOS – US$ Milhões – FOB
1992-1993
  Especificação
Valores Acum. – Jan/Ago
Var. Relativa(%) 1993/1992
1992
1993
1. Componentes
    1.1 Máq. e Unid. p/ Process. de Dados
    1.2 Unid. de Disco e Fita Magnética
    1.3 Impressoras
    1.4 Unid. de Entrada/Saída
    1.5 Unid. de Memória
    1.6 Term. de Vídeo, Formatadores, Leitoras,    Moduladores  etc
250,3
78,7
58,4
19,5
4,9
3,3
85,5
745,8
224,5
164,9
106,2
60
13,4
176,8
198%
185%
183%
444%
1.128%
308%
107%
2. Acessórios
    2.1 Gabinetes
    2.2 Teclados
    2.3 “Drivers” de Disco Flexível
    2.4 Mec. de Imp. Visores e Outras Partes e Acessórios
170,9
15,4
1,3
1,3
152,9
307,7
21,2
6,4
3,7
276,4
80%
38%
392%
185%
81%
Total (1+2)
421,3
1.053,5
150%
Fonte: MICT – SECEX
Elaboração Boletim de Conjuntura
1993 – Dados Preliminares


Os mais expressivos incrementos nas importações vêm ocorrendo no segmento de automóveis e autopeças, conforme se observa pelos dados da Tabela 8. Entre janeiro e agosto do corrente ano, relativamente aos mesmos meses de 1992, as aquisições de automóveis e utilitários estrangeiros elevaram-se em algo próximo de 300%, atingindo neste ano, US$ 1.600 milhões, correspondentes a, quase 179.000 veículos. Somente na categoria de camionetas e pick-ups, os valores de importações autorizadas elevaram-se de 1.190%, e, em termos de unidades, passaram de 1.900 para 24.200, de 1992 para 1993, correspondendo a um incremento de 1.150%.

TABELA 8
IMPORTAÇÃO AUTORIZADA
AUTOMÓVEIS, UTILITÁRIOS, MOTOS E PARTES E PEÇAS PARA VEÍCULOS
1992-1993 – Em US$ Milhões - FOB
Especificação
Quantidades e Valores Acumulados – Janeiro/Agosto
1992
1993
Var. Relativa (%)
Quant.
Valor
Quant.
Valor
Quant.
Valor
1. Automóveis
    1.1. Automóveis e Jipes c/ Motor e Álcool ou Gasol.
    1.2. Autom. e Jipes c/ Motor a Diesel e Outros Motores
    1.3 Camionetas, Furgões, Pick-ups até 5t c/ Motor Diesel ou Gasol.
57.700
51.000
4.800
1.900
416,4
393,3
13,0
10,1
178400
138600
15600
24200
1.597,3
1.392,7
74,2
130,4
209%
172%
222%
1150%
284%
254%
472%
1.186%
2. Motocicletas
3.400
10,2
12100
36,2
258%
254%
3. Autopeças
    3.1 Pneus
    3.2 Motores
    3.3 Partes de Motores
    3.4 Dispositivos Elétricos
    3.5 Parte e Peças
-
-
-
-
-
-
740,1
16,4
75,3
53,0
44,4
551,0
-
-
-
-
-
-
3.268,7
58,0
437,4
97,3
111,0
2.565,0
-
-
-
-
-
-
342%
255%
481%
83%
150%
365%
Total (1+2+3)
-
1.166,7
-
4.902,2
-
320%
Fonte: Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo – MICT
 Secretaria de Comércio Exterior
Elaboração Boletim de Conjuntura
1993 – Dados Preliminares


As autorizações para importação de motores elevaram-se em 480% e de partes e peças para veículos em 360%, de longe o item mais relevante, uma vez que totalizou US$ 2.600 milhões.

A análise desagregada das importações completa-se com a apresentação da Tabela 9, onde estão listadas as importações de partes e peças para veículos, destacando-se as diferentes partes de carroceria com elevação nos valores de importações autorizadas que vão desde 850% a 15.900%, em 1993 de janeiro a agosto, comparativamente ao mesmo período do ano anterior.


TABELA 9
IMPORTAÇÃO AUTORIZADA – PARTES E PEÇAS PARA VEÍCULOS
1992-1993 – US$ Milhões - FOB
Especificação
Valores Acumulados – Jan/Ago
Val. Rel. (%) 1993/1992
1992
1993
Pára-Choques
0,4
17,7
4.325%
Pára-Lamas
0,5
5,3
960%
Capotas
3,2
5,4
69%
Grades de Radiador
1,1
2,2
100%
Pára-Brisas
1,6
12,6
688%
Protetores de Janelas/Portas
1,0
159,6
15.860%
Portas
4,8
45,7
853%
Outras Partes de Carroceria
16,0
281,7
1.661%
Sistemas de Freio
32,7
128,7
294%
Caixas de Marchas
223,9
626,8
180%
Eixos de Transmissão
24,1
84,0
248%
Rodas
0,9
9,7
978%
Calotas
0,6
10,1
1.583%
Amortecedores
2,3
6,2
170%
Radiadores
7,2
29,9
315%
Silenciosos
11,1
137,8
1.141%
Conjunto de Embreagem
6,7
17,1
155%
Volantes de Direção
0,6
7,2
1.100%
Barras e Caixas de Direção
6,4
53,5
736%
Chassis
4,3
21,7
405%
Carcaças de Diferencial
1,1
9,9
800%
Injeção Eletrônica
4,2
8,3
98%
Outras Partes e Acessórios
196,3
884,0
350%
Total
551,0
2.565,0
365%
Fonte: MICT – SECEX
Elaboração Boletim de Conjuntura
1993 – Dados Preliminares


O AVANÇO DAS IMPORTAÇÕES – CONCLUSÃO

O estudo da pauta das importações brasileiras quando processado através da desagregação de seus dados, como o que se procedeu para aos períodos de agosto de 1993 e 1992, permite gerar importantes conclusões, que se realizado de outra forma não poderiam ser evidenciadas.

A abertura das importações pelos setores de demanda da economia, por seções e capítulos da Nomenclatura de Mercadorias e, sempre que necessário, a nível de produtos sugere as seguintes observações.

Em primeiro lugar, cabe destacar que o aumento das importações efetivas entre janeiro e julho de 1993 foi capitaneado pelos bens de consumo duráveis (incremento de 70%) seguidos pelos produtos intermediários e matérias-primas (elevação de 40%). A sensibilidade das importações à magnitude do rebaixamento tarifário atingido a partir da segunda metade de 1993 e às oscilações do aumento do PIB evidencia-se de forma notável quando se compara esses incrementos de 70% e 40%, no corrente ano, com acréscimo de apenas 7% para os bens duráveis e a estagnação dos demais, observada em 1992 (ano em que o PIB decresceu 0,8% e a tarifa média era de 21% com o desvio padrão de 14%), relativamente a 1991.

A “exposição planejada da indústria brasileira à competição internacional”, que objetivava viabilizar a incorporação de novas tecnologias, induzir a elevação da produtividade e alterar os preços relativos (como consta do documento “Diretrizes Gerais para a Política Industrial e de Comércio Exterior”, em vigor desde 1990), parece não ter exercido efeitos significativos sobre o setor de bens de capital, cujas importações efetivas nos sete primeiros meses de 1993 cresceram a uma taxa sensivelmente abaixo da média, ao contrário do que seria desejável.

Por outro lado, os dados relativos às importações de produtos intermediários, nos oito primeiro meses de 1993 comparativamente a 1992, são compatíveis com a elevação de produtividade da indústria brasileira de modo geral. Não tanto por um processo generalizado de renovação de ativos fixos, mas sim através da especialização da indústria doméstica. Neste processo as empresas promoveram a extinção de diferentes linhas de produção, que vieram a ser substituídas pela importação de componentes de produtos acabados que irão integrar os seus produtos finais.

De fato, as importações autorizadas de janeiro a julho de 1993 de produtos de plástico e de borracha aumentaram, comparativamente a 1992, 90% e 150%, respectivamente; fibras sintéticas, 600%; tecidos, 350%. No setor automobilístico, as importações autorizadas de motores elevaram-se 480% (US$ 75 milhões, em 92 para US$ 440 milhões, em 93); dispositivos elétricos, 150%; outras partes e peças, 360%.

Dentre as partes e peças, cujas importações autorizadas passaram de US$ 550 milhões para US$ 2.600 milhões, entre 1992 e 1993 (janeiro/agosto), destacam-se um sem número de componentes, desde calotas e pára-choques, passando por componentes mecânicos, até partes de carrocerias, conforme relacionado na Tabela 9.

No que diz respeito às importações de bens de consumo, vimos que o destaque coube aos bens de consumo duráveis (crescimento da ordem de 70% em 1993) e, em particular, às importações de veículos de passageiros, cujos valores autorizados cresceram próximo a 300% nos oito primeiros meses do corrente ano, relativamente idêntico período de 1992. O número de automóveis e utilitários saltou de próximo a 60.000 unidades, em 1992, para cerca de 180.000, em 1993 e, em valor, de US$ 400 milhões para US$ 1.600 milhões.

Em suma, três anos depois de deflagrado um programa de ampla liberalização comercial no Brasil emerge uma tendência de forte aumento das importações. Mas talvez seja ainda prematuro projetar para o futuro próximo uma drástica redução dos superávits comerciais brasileiros. Antes de mais nada, porque as exportações ainda se mantêm crescentes (embora em ritmo decrescente), e suas taxas de expansão incidem sobre uma base ainda bastante superior à das importações. Porém, mais importante é o impasse da conjuntura econômica doméstica, que projeta sobre os agentes econômicos um clima de incerteza de tal forma exacerbado que inviabiliza projeções de investimento que requeiram prazo de retorno um pouco maior do que o imediato.

Contudo, é bem possível que as substituições que se têm processado nas linhas de produção, haja vista as importações crescentes de bens intermediários e finais, continuem, assim como os benefícios que trazem para as empresas. É preciso avaliar, contudo, em que casos esta “DESSUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES” deve prosseguir, e quando ela é contrária aos interesses do país. Isto é uma questão central para a política industrial.

A exemplo das práticas adotadas pelas principais economias, o Brasil deveria analisar a conveniência de reestruturar o seu comércio exterior e de aplicar, quando necessário, medidas de defesa de sua produção, tendo em conta objetivos internos de política industrial e uma realidade mundial de protecionismo disfarçado por uma ampla variedade de barreiras não tarifárias.





Reservas Internacionais

As reservas internacionais aumentaram vertiginosamente ao longo deste ano, alcançando em agosto o recorde histórico de US$ 20,3 bilhões, segundo o critério de caixa – que inclui apenas os haveres disponíveis no curto prazo – e de US$ 27,1 bilhões, de acordo com o conceito de liquidez internacional – que contabiliza também os haveres de médio e longo prazos. Apenas de janeiro a agosto foram adicionados US$ 1,3 bilhão aos haveres de curto prazo e US$ 3,3 bilhões às reservas medidas pelo conceito de liquidez internacional (Tabela 10).


TABELA 10
RESERVAS INTERNACIONAIS NO BANCO CENTRAL DO BRASIL
Em US$ Milhões
Fim de Período
Caixa
Liquidez Internacional
1983
-1555
4.563
1984
7.522
11.995
1985
7.690
10.482
1986
4.585
6.760
1987
4.433
7.458
1988
5.359
9.140
1989
7.268
9.679
1990
8.751
9.973
1991
8.552
9.406
Jan/92
9.682
11.866
Fev
11.081
14.378
Mar
13.741
17.062
Abr
15.162
18.518
Mai
16.919
20.512
Jun
18.109
21.703
Jul
18.941
22.705
Ago
18.932
23.109
Set
17.682
21.964
Out
19.366
24.124
Nov
19.883
24.481
Dez
19.008
23.754
Jan/93
18.779
23.313
Fev
18.493
22.890
Mar
17.960
22.309
Abr
17.816
22.737
Mai
18.661
23.981
Jun
18.814
24.476
Jul
19.619
25.937
Ago
20.277
27.088
Fonte: Nota Para a Imprensa – Banco Central do Brasil


Dentre os fatores que sustentaram estes resultados, caberia destacar os saldos comerciais e o vigoroso ritmo de captação de recursos voluntários observado ao longo deste ano.

a)      Captação de Recursos Externos

O volume de recursos captados no mercado financeiro internacional, ao longo dos primeiros oito meses de 1993, é 52,1% superior ao registrado em igual período do ano passado. Confirma-se, assim, a tendência, observada a partir de 1991, de aumento na captação média mensal de recursos externos, a partir da conjugação de uma série de fatores positivos, tais como: a manutenção de uma diferença entre o custo dos recursos internos e externos, a redução do “risco Brasil” percebido pelos credores e a baixa probabilidade de desvalorizações reais significativas de taxa de câmbio (Tabela 11).


TABELA 11
CAPTAÇÃO DE RECURSOS EXTERNOS
Em US$ Milhões
Discriminação
1990
1991
1992
1993
Jan/Ago
Jan/Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Jan/Ago
Investimentos
688
1.455
3.631
5.188
529
438
594
930
748
990
1.191
1.960
7.380
   Em Bolsa
171
760
2.526
3.863
425
408
561
850
725
957
1.128
1.909
6.963
Diretos
517
695
1.105
1.325
104
30
33
80
23
33
63
51
417
Empréstimos em Moeda
1045
4.408
5.647
7.980
170
196
1.259
762
526
1.412
1.076
879
6.341
Financiamentos
2.882
4.160
817
2.332
325
716
280
211
125
342
54
91
2.343
Leasing e Aluguel
752
1.519
786
1.173
227
29
20
75
13
18
20
15
417
Pagamentos Antecip. Exp.
-
85
534
1.089
73
43
58
50
70
95
42
445
876
TOTAL
5.367
11.672
11.415
17.762
1.324
1.422
2.211
2.028
1.482
2.857
2.383
3.390
17.357
Fonte: Nota Para a Imprensa – Banco Central do Brasil
Nota: O Período refere-se às datas inicialmente previstas para ingresso nos registros do FIRCE, o que pode vir a não se concretizar.

Apenas em agosto, o ingresso de recursos externos voluntários sofreu aumento de 42,3% em relação ao mês anterior, sustentado basicamente pelos investimentos em moeda estrangeira no mercado de capitais brasileiro, que apresentaram crescimento de 69,2% segundo a mesma comparação. Com isso, o País já acumulou neste ano um influxo de recursos no valor de US$ 17,4 bilhões, em contraposição aos US$ 17,8 bilhões registrados ao longo dos doze meses de 1992.

O arrefecimento do ritmo de ingresso de empréstimos em moeda obtidos junto ao mercado financeiro internacional, observado desde julho deste ano, deve-se à redução do prazo, de 36 para 30 meses, para amortização de recursos aplicados internamente pelos investidores estrangeiros e à ampliação, de 5 para 8 anos, do prazo para que o capital externo fique isento do imposto de renda ao deixar o país.

Essas duas medidas contribuíram para a queda de US$ 474 milhões no total do influxo de capitais externos em julho deste ano, comparativamente a junho. Essa redução ocorreu basicamente no aporte de recursos sob a forma de empréstimos em moeda-bônus comercial papers- e financiamentos. Os investimentos em bolsas de valores e os direitos apresentaram crescimento de 17,9% e 90,9%, respectivamente.

b)      Câmbio Contratado

O câmbio contratado é uma estatística que reflete o movimento de caixa do sistema financeiro com o público, sendo um dos elementos para avaliar a evolução das reservas internacionais.  As operações do câmbio comercial determinam o fluxo de divisas disponíveis para a formação de reservas provenientes do comércio exterior e as do câmbio financeiro espelham a movimentação de divisas originadas da oferta e demanda de dólares dos agentes privados, em função dos fluxos de capitais transacionados com o sistema financeiro internacional.

No mês de julho, o balanço cambial – composto pelo fechamento das exportações, importações, compra e venda financeiras – registrou o ingresso líquido de US$ 1,8 bilhão, em contraposição aos US$ 930 milhões observados no mês anterior (Tabela 12). Em agosto, o elevado saldo líquido das operações financeiras – US$ 610 milhões -, engrossado fundamentalmente por capitais altamente voláteis, fez com que o Banco Central adotasse medidas que restringissem mobilidade de fundos de investimento estrangeiro no País, através da proibição de aplicação nos fundos de commodities e em títulos de renda fixa (Resolução 2013 do CMN). O movimento financeiro somado ao resultado de caixa do comércio exterior – este de US$ 1,3 bilhão – provocou um saldo líquido de US$ 1,9 bilhão, superior aos observados mensalmente ao longo deste ano. No mês de setembro, o pequeno saldo cambial – US$ 346 milhões – deveu-se ao substancial aumento das vendas financeiras – US$ 3,7 bilhões contra US$ 2,2 bilhões no mês anterior. O fenômeno decorreu da restrição à permanência de capitais externos (ingressados pelo mecanismo do Anexo IV) nos fundos de commodities e nas aplicações de renda fixa. Por esta razão as saídas de divisas concentraram-se nos dias que antecederam a data-limite (20/09) para que os investidores estrangeiros desfizessem suas posições.

TABELA 12
CÂMBIO CONTRATADO – EM US$ MILHÕES
Período
Comercial
Financeiro
Saldo (1+2)
Export.
Import.
Saldo (1)
Compras
Vendas
Saldo (2)
Jan/92
3.935
1.650
2.285
1.456
1.308
148
2.433
Fev
3.544
1.262
2.282
1.377
1.182
195
2.477
Mar
3.557
1.230
2.327
1.898
1.301
597
2.924
Abr
3.213
1.476
1.737
1.873
1.199
674
2.411
Mai
3.335
1.406
1.929
1.442
1.175
267
2.196
Jun
3.140
1.474
1.666
1.741
1.564
177
1.843
Jul
3.636
1.807
1.829
1.187
1.550
-363
1.466
Ago
3.113
1.587
1.526
985
1.418
-433
1.093
Set
2.609
1.747
862
856
1.406
-550
312
Out
3.569
1.592
1.977
1.273
1.364
-91
1.886
Nov
3.175
1.570
1.605
1.096
1.315
-219
1.386
Dez
2.731
2.018
713
1.167
1.724
-557
156
Jan-Dez
39.557
18.819
20.738
16.351
16.506
-155
20.583
Jan/93
2.867
1.737
1.130
991
1.515
-524
606
Fev
2.514
1.282
1.232
946
1.483
-537
695
Mar
2.868
1.949
919
2.028
1.950
78
997
Abr
3.048
1.611
1.437
1.821
2.180
-359
1.078
Mai
3.186
1.628
1.558
1.699
1.454
245
1.803
Jun
2.953
1.982
971
2.582
2.623
-41
930
Jul
3.071
1.619
1.452
2.569
2.165
404
1.856
Ago
3.434
2.104
1.330
2.824
2.214
610
1.940
Set
3.217
1.955
1.262
2.789
3.706
-917
345
Jan-Set
27.158
15.867
11.291
18.249
19.290
-1.041
10.250
Fonte: Nota Para a Imprensa – Banco Central do Brasil


Câmbio

               A valorização real do cruzeiro que vem ocorrendo desde agosto do ano passado, acentuou-se ao longo deste ano e, particularmente, neste terceiro trimestre. Na prática, isto significa que os ajustes do câmbio não vêm acompanhado de índices de inflação (Tabela 13).

Considerando como referência a média de 1988, e adotando com deflator o IPA-OG/Brasil a valorização real do cruzeiro até setembro deste ano atingiu 22,5%, frente ao dólar, e 17,7% quando comparado a uma cesta de sete moedas (câmbio real efetivo). Comparando-se a taxa de câmbio média do período janeiro-setembro do corrente ano com a de 1992, verifica-se uma apreciação da moeda nacional, em termos reais efetivos de 10,3%. Isto, no entanto, não tem impedido uma performance razoável das exportações brasileiras.


A Unificação dos Mercados Cambiais

Em fins de setembro, o Governo anunciou que atuaria no sentido da unificação dos mercados cambiais. O anúncio dessa disposição associado à alta dos juros internos provocaram uma virtual eliminação do ágio entre os mercados de câmbio comercial, flutuante e paralelo. De fato, entre julho e agosto, o ágio entre o paralelo e o comercial oscilou em torno 8% a 10%, caindo para cerca de 1% a 2% na última semana de setembro.


TABELA 13
ÍNDICES DE CÂMBIO REAL – BASE 1988=100
DEFLATOR: IPA-OG TOTAL
Períodos
Taxa Cr$/US$
Real
Taxa Real Efetiva
Pond. CC
1985
130,92
105,37
1986
116,24
107,84
1987
112,54
111,07
1988
100,00
100,00
1989
86,25
82,61
1990
68,63
69,33
1991
82,96
87,01
1992
88,39
95,94
Jan/92
88,91
96,90
Fev
87,77
94,42
Mar
89,86
95,29
Abr
92,49
98,55
Mai
92,04
99,03
Jun
92,11
100,22
Jul
91,62
101,96
Ago
87,62
98,48
Set
85,33
95,31
Out
85,37
93,24
Nov
84,20
89,43
Dez
83,29
88,49
Jan/93
83,91
87,98
Fev
83,52
86,95
Mar
84,10
87,87
Abr
83,44
88,83
Mai
81,84
87,51
Jun
81,39
86,01
Jul
80,64
84,25
Ago
79,10
82,83
Set
77,53
82,34
Fonte: Gazeta Mercantil – Elaboração Boletim de Conjuntura


Renegociação da Dívida Externa

A nova equipe econômica[5] vem tentando, desde julho deste ano, retomar as negociações do FMI, com objetivo de obter um “sinal verde” para a conclusão do acordo com os bancos privados credores e a liberação do empréstimo stand by de US$ 2,1 bilhões, firmado em janeiro de 1992. Desse acordo dependem a troca da dívida externa pelos novos bônus, a definição das garantias que darão suporte ao acordo e às discussões com o Tesouro dos EUA para a emissão dos zero coupon bonds que garantirão o pagamento dos bônus “com desconto” e “ao par” no prazo fixado. Além disso, o acordo com FMI servirá de base para o acordo de reestruturação que o governo quer acertar com os credores oficiais do Clube de Paris.

No entanto, em setembro, as dificuldades em torno do acerto com o FMI transferiram para 28 de fevereiro do próximo ano a conclusão do acordo com os bancos credores privados, envolvendo cerca de US$ 53 bilhões. Até o presente momento, as opções dos bancos – englobando 95% do valor dos créditos – segundo os instrumentos oferecidos, estão distribuídas da seguinte forma: 35% representam opções pelo “bônus com desconto”, entre 35% e 36% pelo “bônus ao par”, 19% pelo “bônus de redução de juros com capitalização”, 5,5% pelo “bônus de redução de juros com garantia parcial” (FLIRB), entre 5% e 6% pelo “bônus de dinheiro novo” e 6,2% pelo “bônus de conversão”, que permite participação no programa de privatização.

Dos US$ 53 bilhões devidos, US$ 36 bilhões são compromissos com os bancos internacionais sujeitos à troca pelos novos bônus,  US$ 4 bilhões se referem ao projeto de dinheiro novo de 1988, US$ 7 bilhões correspondem à dívida com bancos brasileiros no exterior e US$ 6 bilhões correspondem a juros atrasados de 1991, 1992 e 1993.

Quanto ao Clube de Paris, no final de agosto o Brasil suspendeu os pagamentos de juros e amortização, envolvendo a quantia de US$ 280 milhões para este ano, referentes a compromissos contratados até março de 1983, e ainda não reestruturados, e também os vencimentos – juros e principal – de acordo com a fase III. No entanto, em 28 de setembro, o País anunciou que voltaria a honrar seus compromissos junto aos governos credores dentro do cronograma. No momento, o governo brasileiro aguarda o fechamento do acordo com o FMI para renegociar a fase V do acerto com os credores oficiais, envolvendo cerca de US$ 1,5 bilhão, cujo vencimento começou em 1º de setembro.


* Professor do IEI/UFRJ, Redator e Editor da Seção “Balanço de Pagamentos, Comércio exterior e Câmbio” do BOLETIM DE CONJUNTURA.

Vide, também neste BLOG, no mesmo MARCADOR: DESINDUSTRIALIZAÇÃO/DESSUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES, artigo de autoria do Embaixador Rubens Ricupero, publicado o periódico Le Monde Diplomatic, na sua edição de maio de 2014.




[1]             Todas as importações precisavam ser previamente autorizadas pela CACEX e constituíam as estatísticas de importações AUTORIZADAS. Somente após o Desembaraço Aduaneiro da mercadoria no porto, aeroporto ou posto de fronteira terrestre, mediante o pagamento do Imposto de Importação, a Secretaria da Receita Federal (SRF) registrava a entrada efetiva da mercadoria no Brasil e, conseqüentemente, o valor correspondente ia compor as estatísticas de importações EFETIVAS.
[2]             O CONCEX (Conselho Nacional de Comércio Exterior), instituído em 1966, tinha por objetivo formular as diretrizes da Política de Comércio Exterior do Brasil.
               A CACEX (Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil) criada em 1953, em substituição à CEXIM (Carteira de Exportação e Importação do Banco do Brasil), atuava como secretaria executiva do CONCEX.  Como membro desse Conselho presidido pelo Ministro da Fazenda, foi um dos principais propositores de ações de política no comércio exterior brasileiro.  Além de ser o órgão encarregado de baixar  as normas visando por em prática as diretrizes emanadas do CONCEX, tinha a missão de emitir as licenças de exportação e de importação e ser o órgão financiador das exportações brasileiras, através da sua Gerência de Financiamento à Exportação (GEFIN), com recursos do Fundo de Financiamento às Exportações (FINEX).
À CPA (Comissão de Política Aduaneira do Ministério da Fazenda) cabia a tarefa de administrar a Tarifa Aduaneira do Brasil (TAB), adequando as alíquotas do Imposto de Importação às necessidades de maior ou menor proteção à produção similar nacional.
A reforma que desestruturou o comércio exterior brasileiro realizada pelo Governo Collor imediatamente após sua posse, em março de 1990, extinguiu os três órgãos acima descritos. Foi criado o DECEX (Departamento de Comércio Exterior), subordinado à Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), do novo Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento.
[3] O Governo Collor de Mello estendeu-se de 15 de março de 1990 a 29 de dezembro de 1992. No dia imediato à sua posse, foram publicadas no Diário Oficial da União inúmeras Portarias que redesenhavam as Políticas Industrial e de Comércio Exterior submetendo a indústria brasileira à competição internacional.
[4]  GATT (General Agreement on Tariffs and Trade – Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio). A Rodada Uruguai do GATT foi concluída em 1994.
[5]             Governo Itamar Franco (1992 a 1995). Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso a partir de maio de 1993. Em julho de 1994, entraria em vigor o Plano de Estabilização Econômica que ficou conhecido como Plano Real.