segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O TRANSPORTE MARÍTIMO NO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO



UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS - FACC


SEMINÁRIO EM CÂMBIO, COMÉRCIO E FINANÇAS INTERNACIONAIS

           
FELICIA RIBEIRO

GABRIEL FERNANDES

dezembro de 2017





Trabalho orientado pelo Professor Érico Lins Leite e apresentado em Seminário na sua disciplina Finanças Internacionais, no Curso de Graduação em Administração da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro - FACC/UFRJ

O presente trabalho dá PROSSEGUIMENTO ao ESTUDO ORIGINAL elaborado pelo Prof. Érico e por ele apresentado na Palestra intitulada "O Comércio Exterior Brasileiro e o Uso do Mar", proferida na Escola Superior de Guerra (ESG), nos anos 80, conforme consta nas referências bibliográficas deste trabalho, referenciado como LEITE, Érico Lins. O comércio exterior brasileiro e o uso do mar. Rio de Janeiro : Escola Superior de Guerra, Departamento de Estudos – Ciclo de Extensão – CE – III/81 – Palestra: T3, setembro 1981.




A importância do transporte marítimo na expansão do comércio exterior
O Brasil é um país majoritariamente exportador de produtos primários, tendo pouca participação na balança comercial de produtos com elevado valor agregado. Dentre os principais produtos exportados pode-se encontrar: minério de ferro, minérios em geral, carnes, açúcar, café, soja, milho, automóveis e outros bens de consumo. Com exceção de veículos automotores, quase todos os demais possuem baixo grau de agregação, sejam primários ou semimanufaturados pouco elaborados. Possuindo mais de 8,5 mil quilômetros de costa navegável, a maioria desses produtos deixa o Brasil através de seus 34 portos públicos e das mais de 100 instalações portuárias privadas.
Pensando em logística e meios de transporte das exportações brasileiras, podemos ver nos gráficos apresentados abaixo, que mais de 81% do valor (FOB) dos produtos brasileiros exportados, no primeiro semestre de 2017, foram por mar, em peso líquido, foram mais de 98,5% do total de exportações, segundo dados da ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários).
De janeiro a outubro de 2017, as exportações por via marítima corresponderam a 83,5% do total exportado pelo País, cerca de US$ 153,2 bilhões. Esses números somam 521 milhões de toneladas exportadas nesse intervalo. O Brasil, sendo um grande país apresenta também grandes proporções no que diz respeito a importância do transporte marítimo.

O investimento em transporte por via marítima é fundamental para aumentar a participação do país no comércio exterior, isso fica evidente se levarmos em consideração os dados apresentados acima. Em 2017, o Governo brasileiro prorrogou ou leiloou através do programa de Parcerias de Investimentos (PPI), oito contratos portuários, incluindo o Terminal do Trigo no Rio de Janeiro.
Levando em consideração que a dimensão dos produtos que o Brasil exporta, especialmente, as toneladas e toneladas de produtos agrícolas, oriundos da agropecuária e da mineração, é imprescindível uma cadeia logística que consiga dar vazão a esses produtos, com grandes terminais portuários e navios. De acordo com a Internacional Chamber of Shipping, existem no momento mais de 50 mil navios mercantes que realizam este transporte e seria impossível sem este tipo de transporte de cargas, realizar negociações e expandir o comércio exterior.

Visão conjuntural do comércio em face da infraestrutura da Marinha Mercante

         Dada a importância do setor aquaviário para toda uma expansão do comércio exterior, faz-se necessário analisar a atual conjuntura do comércio exterior brasileiro em face ao andamento da Martinha Mercante nacional.

O comércio exterior brasileiro, segundo os gráficos a seguir, pode ser caracterizado como em expansão nos anos 1985 a 2010. O crescimento das exportações ocorreu em função da brutal elevação dos preços das commodities no mercado mundial, com a entrada da China como grande importador de produtos primários de origem agrícola e mineral.
Figura 1
Evolução das exportações e importações
US$ mil 
1985 – 2010

            Fonte: BCB (FILHO-GOULARTI, 2012 p.119)

A figura 1, evidencia claramente a evolução das exportações e importações em US$ mil, principalmente a partir de 2003, com crescimento de 333,3 % e 366,7 % respectivamente no período de 2002 a 2010.

Figura 2
Evolução do movimento portuário brasileiro 
mil ton.
1985 – 2009

            Fonte: PORTOBRAS, IBGE, ANTAQ

A figura 2, reafirma tal crescimento na evolução do movimento portuário brasileiro, que compete as navegações de cabotagem, apoio marítimo e longo curso. Dessa forma, este gráfico, indica uma crescente demanda tanto nacional quanto e principalmente internacional das atividades marítimas, uma vez que, em média, 80% das movimentações correspondem a navegação de longo curso.   

Figura 3
Transporte Longo Curso – (Exportação + Importação)
mil ton.
2010 – 2016


Fonte: ANTAQ

A figura 3, por sua vez, apresenta os dados mais recentes da evolução do transporte de Longo Curso, o qual permite inferir que embora não apresente mais uma taxa de crescimento expressiva, o setor continua crescendo 19,2 % entre o período de 2010 a 2016 e apresentando uma demanda crescente por atividades portuárias.

Em suma, o Brasil necessita uma frota Mercante bem desenvolvida para que se fundamente todo esse processo expansionista. Todavia não é o que se constata,. Enquanto as movimentações portuárias avançaram, a Marinha Mercante brasileira regrediu.

É certo afirmar que a Marinha Mercante brasileira, de fato, nunca supriu em sua totalidade as necessidades do setor aquaviário. Todavia, as últimas décadas, como mostra a figura 4, apontam o completo descompasso da frota mercante brasileira frente aos avanços nas movimentações portuárias e na atuação do Brasil no mercado exterior.

Figura 4
Evolução da frota mercante
mil TPB
1985 - 2010

            Fonte: SUNAMAM, DMM e ANTAQ

            Vale mencionar, que estes dados estão diretamente relacionados com as políticas econômicas adotadas, principalmente na década de 90. O governo Collor, em meio a situação econômica brasileira de dívida externa, crise fiscal e crise financeira, adotou no intuito de fazer o reajuste fiscal, políticas de privatização, desnacionalização e cortes de investimento. Além disso, promoveu a abertura econômica. (FILHO-GOULART, 2012).

            Dessa forma, a Marinha Mercante brasileira, que vinha sendo incisivamente incentivada nos Governos Militares, financiada e protegida pelo Estado, viu a sua principal base ser removida, inclusive passando a atuar, de forma negativa ao seu desenvolvimento. 

          As políticas mencionadas provocaram, a privatização de diversas empresas nacionais, inclusive em atividades portuárias.

          Ademais, outra ação que incentivou o desmanche da Marinha Mercante foi a inexistência de um financiamento para o desenvolvimento e manutenção das respectivas frotas brasileiras, o que deixou as empresas nacionais completamente a mercê do capital estrangeiro – facilitado este pela abertura comercial – que resultou na aquisição e/ou participação do capital estrangeiro em diversas empresas nacionais.

Além do desmanche, o governo criou a Lei n.º 9.432, em 1997, que redefiniu o regime jurídico da navegação nacional – que permitiu a navegação de navios estrangeiros afretados no mercado de cabotagem, interno e de apoio marítimo.

Filho-Goularti (2012) destacou que as medidas adotadas, reduziu significativamente a frota nacional no longo curso, assim como enfraqueceu a navegação nacional de cabotagem, interna e de apoio marítimo. Além disso, posicionou a Marinha Mercante brasileira à mercê do capital e aos armadores estrangeiros. 

       O desmanche foi de tal maneira, que embora nos últimos anos a Marinha Mercante e a construção naval tenham retomado, de certa forma, o crescimento, a participação de mercado de navios próprios nacionais não conseguiu se recuperar, perdendo espaço para os afretados e os navios estrangeiros, assunto que será melhor abordado na sequência deste trabalho.

Vale ressaltar que, a situação da Marinha Mercante Brasileira encontrava-se ainda mais sucateada do que a figura 4 possa parecer, vez que tal não difere navios próprios aos navios afretados. A figura 5, por sua vez relata tal diferença e transmite dessa forma, a real situação caótica da Marinha Mercante brasileira no pós-Collor, com apenas 5% da frota nacional em navios próprios em 2005.


 Figura 5
Dados gerais da Marinha Mercante brasileira 
1905 – 2005

Errata: trabalhadores na Indústria Naval em 2000 = 1.900 e, em 2005 = 1.400
            Fonte: IBGE, CMM, SUNAMAM, DMM, BNDES, SINAVAL, MDIC e ANTAQ


O perfil da frota brasileira de longo curso e seus reflexos no comércio exterior          

O atual perfil da frota mercante de Longo Curso brasileira pode ser melhor compreendido pela figura 6, que apresenta a evolução da participação das bandeiras na frota de longo curso brasileira.

            Figura 6
Evolução da participação das bandeiras na frota mercante de Longo Curso brasileiras 1985 – 2010


            Fonte: SUNAMAM, DMM e UNCTAD

            A figura 6, mostra claramente o desmanche da Marinha Mercante de Longo Curso brasileira nos anos pós-Collor, apontando uma redução de 17,5 % da frota em navios próprios em 1985 para ínfimos 5 % em 2000.

         Vale ressaltar, que o gráfico em questão a partir de 2001 passou a incorporar os navios nacionais com os afretados, o que dificulta mensurar de fato os reais avanços da Marinha Mercante de Longo Curso nacional nos últimos anos. Todavia, ao fazer uma comparação a Figura 5, a qual indica uma frota mercante de navios próprios no longo curso de 5 % em 2005 e traçar um paralelo aos gastos com afretamento dos últimos anos, estima-se que em grande parte do conjunto “Nacional e afretados”, seja composto de navios Afretados.

            Em suma, os maiores impactos de apresentar uma Marinha Mercante de Longo Curso estruturada em navios afretados e navios estrangeiro no mercado exterior, são as questões referentes à competitividade e à subordinação. O primeiro refere-se à incorporação dos gastos com fretes e aluguel de equipamentos aos produtos comercializados, que os encarecem e os fazem perder competitividade no comercio mundial. Enquanto que o segundo, trata-se da subordinação do empresariado brasileiro aos fretes e aluguel de equipamentos impostos pelas empresas estrangeiras.


RECEITAS E DESPESAS BRASILEIRAS COM FRETES

            Receitas e despesas com fretes são de fácil entendimento. Todavia os conceitos guardam particularidades. Inicialmente, consiste basicamente na ideia de que quem fornece o frete aloque o valor referente em receitas de fretes no Balanço de Pagamentos, ao passo que quem adquire o frete contabiliza na conta de despesas com frete.

            A questão que se aplica no caso refere-se ao perfil da frota, navio estrangeiro, navio afretado ou navio próprio. No caso de navios próprios, o frete é contabilizado como residente – na conta de receitas com fretes. No caso de navios afretados, a bandeira continua sendo brasileira, todavia, após a contabilização na conta de receitas com fretes, há a saída de divisas na conta de aluguel de equipamentos. O último caso, de navio estrangeiro, contabiliza-se como despesa de frete.

            A figura 7, representa a evolução das receitas e despesas com fretes. O gráfico em questão nada mais é do que um reflexo das más políticas econômicas implantadas ao longo do tempo, que influenciaram tanto o comércio exterior quanto o perfil da Marinha Mercante de Longo Curso.      

            Figura 7
Evolução das receitas e despesas com fretes, 1985 – 2010

 Fonte: BCB

            A figura 7 mostra receitas e despesas em torno de 1985, relativamente baixas e próximas, o que representava uma movimentação portuária ainda não muito expressiva e uma frota equilibrada entre navios estrangeiros e navios afretados e próprios.   Ao passo que na década de 90, as despesas já começaram a se distanciar das receitas, que remete ao liberal governo Collor, onde as movimentações portuárias começaram a se desenvolver e as políticas econômicas devastaram a Marinha Mercante brasileira.  Enquanto que a última parte, mais recente de 2002 a 2010, nota-se uma disparada mais acentuada das despesas, que remete as taxas expressivas de crescimento dos movimentos portuários e os reflexos da década de 90 para a Marinha Mercante Brasileira.

            Vale destacar, que embora os últimos anos demostrem avanço na receita com frete, isso não representa, de fato, receitas ao país, vez que grande parte desses recursos advém de navios afretados, o que assim como mencionado, representam receitas de frete, mas que despende divisas na conta de aluguel de equipamentos.

              Filho-Goularti (2012) destaca, que quanto maior for a participação de navios estrangeiros em sua frota mercante, maiores tenderão ser as suas despesas, ao passo que uma frota composta por maioria de navios próprios, as receitas tenderão a aumentar. Vale destacar novamente, que embora uma frota afretada acrescente na conta de receitas de frete, o país continua despendendo divisas na conta de aluguel de equipamentos, que será melhor abordado na sequência.


Despesas com afretamentos de meios de transporte
Como foi apresentado acima, a marinha mercante nacional se encontra muito atrás da internacional. Podemos verificar essa disparidade não só na conta Receitas e Despesas com Fretes, mas também nas Despesas e Receitas referentes a Afretamentos com meios de transporte.
Essa conta pode ser encontrada no Balanço de Pagamentos; na Conta Serviços; Aluguel de Equipamentos. Dessa forma, são registradas as receitas e despesas realizadas com aluguéis de máquinas sem operador, por exemplo: plataformas de petróleo e afretamentos de veículos de transportes (navios, aeronaves) sem tripulação. Na tabela a seguir podemos ver os dados referentes à essa conta, no período de 1995 a 2016.

1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Receitas
34
5
21
14
6
91
278
49
25
59
78
Despesas
804
661
1 069
648
605
1 401
2 146
1 721
2 337
2 225
4 208
Total
- 769
- 656
-1 048
- 634
- 599
-1 311
-1 867
-1 672
-2 312
-2 166
-4 130
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
Receitas
77
31
55
50
90
73
70
311
170
191
170
Despesas
4 964
5 802
7 863
9 442
13 808
16 756
18 806
19 367
22 799
21 723
19 676
Total
-4887
-5771
-7 808
-9393
-13718
-16682
-18736
-19056
-22629
-21532
-19506
Fonte: Banco Central do Brasil; Valores em US$ milhões
Como podemos observar nos dados acima, em um período de 22 anos, se forem somados os totais anuais, cerca de US$ 177 bilhões foi o déficit nessa conta. Esse número representa a diferença entre o quanto o país gastou alugando equipamentos de outros países e o quanto ganhou alugando seus equipamentos para as outras nações.
Tendo em vista que grande parte dessa conta é referente a afretamentos de veículos de transportes, torna-se evidente que é uma área onde o Brasil possui uma grande necessidade de investimento, e que se encontra desestruturada, uma vez que o país emprega uma enorme verba em aluguéis  de equipamentos estrangeiros.
Esses dados são mais uma confirmação da urgência em desenvolver uma política de transportes brasileira capaz de enxergar a longo prazo, ao invés de evitar “gastos” de curto prazo, enxergar como esses “gastos” seriam em realidade investimentos à longo prazo não só no desenvolvimento da indústria naval e de navios próprios nas navegações de cabotagem e de longo curso.
Nas tabelas apresentadas verificamos as informações referentes à meios de transporte em geral, não tripulados. Abaixo podemos ver o caso mais específico dos Transportes realizados por via marítima, com o Afretamento de embarcações.

Afretamento de embarcações
O afretamento de embarcações estrangeiras ou nacionais para a prestação de serviços de transporte de cargas (cabotagem e longo curso) e de apoio (marítimo e portuário) é atualmente regulamentado pela ANTAQ. Existindo dois tipos de afretamento: a autorização e o registro.
A autorização é necessária para o afretamento de embarcações estrangeiras por viagem ou por tempo, para operar nas navegações de cabotagem, apoio portuário, apoio marítimo ou longo curso quando se aplicar as disposições do Decreto-Lei nº 666/69, bem como a casco nu na navegação de apoio portuário. De acordo com o Decreto-Lei nº 666/69, a autorização somente ocorrerá quando for verificada a indisponibilidade ou inexistência de embarcações brasileiras; por interesse público; ou em substituição à embarcação em construção no país, nos limites estabelecidos na Lei 9.432/97.
Já o registro ocorre nos casos de afretamento de embarcações brasileiras, ou de estrangeiras para a navegação de longo curso, quando não aplicáveis as disposições do Decreto-Lei nº 666/69. Além disso, independe de autorização o afretamento de embarcação estrangeira a casco nu, com suspensão de bandeira, para a navegação de cabotagem e de apoio marítimo, atendido o disposto na Lei 9.432/97 e nas Resoluções-ANTAQ nº 192 e 193.


Evolução da quantidade de afretamentos confirmados na navegação

por tipo de Navegação

Apesar do disposto no Decreto-Lei nº 666/69, onde as embarcações brasileiras teriam preferência, podemos observar, nos gráficos acima (com principal atenção ao gráfico de Longo Curso, onde estão representadas as embarcações utilizadas para realizar exportações e importações), que a grande maioria dos Afretamentos é representada por Autorização, ou seja, por embarcações de bandeira estrangeira.
Esse dado corrobora a deficiência de um investimento em políticas públicas de desenvolvimento da marinha mercante nacional. Qual a serventia de um Decreto-Lei que prevê prioridade às embarcações brasileiras, se na prática esta opção não é viável, encontrando-se indisponível frente à demanda que precisa ser atendida? Observando ainda que no Registro são contabilizadas tanto embarcações nacionais quanto estrangeiras, fato que torna mais complexo analisar a real disparidade que se apresenta entre os navios brasileiros e os internacionais.

Importância das vendas e compras nas modalidades 
Free on Board (FOB)
Cost, Insurance and Freight (CIF)
Como se sabe, no comércio internacional existem diversas modalidades de pagamento de frete, dentre elas, FOB e CIF. Essas siglas representam duas das opções de pagamento do frete para o transporte marítimo de mercadorias. Sendo assim, comprador e vendedor devem decidir a modalidade de frete mais adequada para a transação comercial.
Os termos Free on Board (FOB) e Cost, Insurance and Freight (CIF) fazem parte dos INCOTERMS (Termos internacionais de comércio) que são normas definidas para trocas comerciais internacionais, editadas pela Câmara de Comércio Internacional (CCI). A utilização das INCOTERMS é um procedimento que deverá estar pactuado entre as partes no contrato internacional de compra e venda de mercadorias.
De forma resumida, estas siglas são utilizadas para distinguir quem dentre o comprador e o fornecedor irá arcar com os custos do frete, ou seja, quem suporta os custos e riscos do transporte.
Contrato FOB (Free on board)
Traduzindo “Livre a bordo”. Neste tipo de frete, o comprador assume todos os riscos e custos com o transporte da mercadoria, assim que ela é colocada a bordo do navio. Por conta e risco do fornecedor fica a obrigação de colocar a mercadoria a bordo, no porto de embarque designado pelo importador. Ao importador cabem as despesas e os riscos de perda ou dano do produto, a partir do momento que este estiver dentro do navio.
Contrato CIF (Cost, Insurance and Freight)
Em português, “Custo, Seguro e Frete”. Neste caso, o fornecedor é responsável por todos os custos e riscos com a entrega da mercadoria, incluindo o seguro marítimo e o frete. Esta responsabilidade termina quando a mercadoria chega ao porto de destino designado pelo comprador.
Existem ainda diversos outros INCOTERMS, como  CPT – Carriage Paid To..., CFR – Cost and Freight ,...que estabelecem normas e detalhes de entregas e riscos, sendo alguns específicos para o tipo de transporte escolhido. No caso do transporte marítimo CIF e FOB são os mais utilizados.
A importância do tipo de modalidade do frete escolhida encontra-se justamente no fato de determinar quem irá arcar com as despesas do transporte do produto exportado. O que irá caracterizar ou não uma despesa brasileira com fretes no Balanço de Pagamentos. No caso de se tratar de um CIF se caracteriza uma despesa enquanto, no FOB não, nesse caso, a despesa é a cargo do importador e, portanto de outro país. Outra questão fundamental é o fato da grande maioria dos fretes não serem realizados por navios da frota Brasileira o que não se reverte em uma Receita brasileira com fretes. Como foi discutido e apresentado anteriormente neste trabalho.
Outra questão importante é que a decisão pela escolha do tipo de Frete se reflete no valor do produto transacionado. Ou seja, para o comprador, se ele arcar com o Frete ( FOB) consequentemente o produto se torna “mais caro” e para o fornecedor, se ele arcar com o frete  (CIF) o “custo” do produto em questão sobe. Atualmente, a grande maioria das empresas brasileiras pratica vendas FOB, enquanto a vantagem competitiva no comércio internacional de commodities vem justamente com a conversão da modalidade de vendas tradicional para o modelo CIF ou CFR.
Se tratando de comércio internacional, muitas vezes com longos e demorados percursos, os fretes representam grande parte do valor da transação, podendo até mesmo superar o valor do produto em si. O que acaba tornando o frete marítimo um fator crítico de competitividade para as commodities brasileiras, principalmente quando o maior parceiro comercial do país é a China, onde transporte marítimo demora cerca de 45 dias incluindo o tempo de porto, o que acaba impactando toda a cadeia.

CONCLUSÃO
O crescimento do comércio exterior brasileiro e o ganho de importância das exportações para economias mais distantes, como a chinesa, reavivam a importância para o nosso País do binômio Construção Naval e Frota Mercante Própria na Navegação de Longo Curso.

Tendo em mente esses objetivos, o presente trabalho redescobre o Tema e dá seguimento ao primeiro estudo sobre o binômio, elaborado nos idos dos anos 80. 

Como foi discutido ao longo deste trabalho e com base nos dados e argumentos apresentados, conclui-se pela necessidade de criação de Políticas de Estado voltadas para o desenvolvimento da indústria naval e para o renascimento da marinha mercante brasileira.

A questão relativa ao excessivo número de portos no comércio exterior brasileiro, em vez de  alguns PORTOS PRIORITÁRIOS e concentradores de mercadorias, tanto de exportação quanto de importação, que barateariam os custos de transporte - mas que sofreriam pesada oposição dos governadores dos Estados cujos portos não fossem designados como "Prioritários" - fica para ser apresentada e debatida em um próximo Seminário.

Até lá.


Referências Bibliográficas

FILHO-GOULARTI, Alcides. A relação entre o desempenho da Marinha Mercante Brasileira e o Balanço de Pagamentos 1985-2010. Revista de Economia, São Paulo. v.36, n.21, p.109-126, maio/ago, 2012.

FILHO-GOULARTI, Alcides. A trajetória da Marinha Mercante brasileira: administração, regime Jurídico e planejamento. Pesquisa & Debate, São Paulo. v.21, n.2, p.247-278, 2010.

FERREIRA, Alberto Dumont Pinto. Transporte Aquaviário: A intervenção do Estado. Trabalho de Monografia no Departamento da Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro. p.133, 2015.

LEITE, Érico Lins. O comércio exterior brasileiro e o uso do mar. Rio de Janeiro : Escola Superior de Guerra, Departamento de Estudos – Ciclo de Extensão – CE – III/81 – Palestra: T3, setembro 1981.

BRASIL. ANTAQ. Anuário Estatísticos de Transportes 2010-2016, 2017. Disponível em:
http://www.uprj.com.br/a-matroca-politica-de-afretamento-ou-politica-de-marinha-mercante-parte-2.html


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