NOVE MIL! Esse, parece, foi o número de funcionários "convidados" a aderir ao Programa de Demissão Voluntária - PDV, somente no Banco do Brasil.
Como cliente, não fiquei satisfeito com a novíssima tecnologia bancária adotada pelo BB (embora seja admirador e grande usuário das novas tecnologias de informação). Menos satisfeito ainda pelas rôtas justificativas apresentadas.
Como brasileiro, fiquei indignado. É a repetição do que eu havia presenciado em 1990, quando do início do governo Collor e seu Partido da Reconstrução Nacional - PRN, que colocaram tudo abaixo para dar passagem a um modelo de política econômica neoliberal.
Dou asas à minha indignação reproduzindo o artigo abaixo, publicado no Jornal dos Economistas, cuja edição de março discute, em textos de vários autores, o atual processo de desmonte do Estado brasileiro.
Desmonte do Estado – Jornal dos Economistas – março de
2017
A REESTRUTURAÇÃO DOS BANCOS FEDERAIS: MOTIVOS E
IMPACTOS
Regina Camargos*
Desde o ano passado, está em curso nos dois grandes
bancos federais – Banco do Brasil e Caixa – um amplo processo de reestruturação
que implicará o redimensionamento de sua estrutura de atendimento e de pessoal.
A justificativa apresentada por essas instituições
financeiras para se reestruturarem é adequar a rede física e o quadro de
pessoal às mudanças no comportamento do consumidor bancário e no relacionamento
entre clientes e bancos, decorrentes da “revolução digital” em curso no sistema
financeiro do país.
De fato, estão ocorrendo rápidas e intensas mudanças
tecnológicas no setor bancário brasileiro. Dados divulgados na Pesquisa
Febraban de Tecnologia Bancária mostram que o número de contas correntes que
realizam operações por smartphones
saltou de 2 para 33 milhões entre 2011 e 2015. Essa modalidade de
autoatendimento se incorporou à rotina dos clientes bancários, especialmente
nas grandes cidades, a despeito dos elevados valores dos aparelhos de telefone
celular e planos de internet. Em face disso, seria impossível a um grande banco
de varejo realizar suas operações sem incorporar as inovações tecnológicas que
surgem e se alteram cada vez mais rapidamente.
Entretanto, há outra razão para explicar a
reestruturação em curso nos bancos federais, relacionada à orientação da
política econômica do atual governo, baseada, entre outras medidas, na redução
do papel do Estado, inclusive de seus bancos.
Banco do Brasil e Caixa – juntamente com o BNDES –
foram cruciais para a expressiva expansão do crédito às famílias e empresas na
última década, sendo este um dos motores do crescimento experimentado entre
2004 e 2010.
Em 2009, esses bancos evitaram o agravamento dos reflexos
da crise internacional no país, pois mantiveram a oferta de crédito num momento
de forte recuo dos bancos privados. Com essa atuação mais ousada, houve forte
expansão da base de clientes do Banco do Brasil e da Caixa e para atender à
expansão dos seus negócios, esses bancos voltaram a contratar e ampliaram suas
estruturas de atendimento.
A reversão da política econômica iniciada logo após a
reeleição da ex-presidente Dilma Roussef, cujos focos passaram a ser o ajuste
fiscal e o combate à inflação, por meio de forte controle da demanda agregada
via elevação dos juros e restrição ao crédito, colocou em xeque aquela
estratégia de atuação dos bancos federais.
As recentes propostas veiculadas na mídia por membros
da atual equipe econômica sobre a possível extinção do crédito direcionado, de
equalização entre a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e a Selic, de aumento
da taxa de juros para os mutuários do programa Minha Casa Minha Vida e de
concessão das atividades das lotéricas à iniciativa privada, por exemplo,
aliadas aos planos de reestruturação
anunciados pela Caixa e pelo Banco do Brasil (grifo nosso) indicam, claramente, a mudança de rumo
em relação à atuação dos bancos federais.
Portanto, a necessidade de adoção de novos paradigmas
tecnológicos explica em parte os processos de reestruturação implementados pelo
Banco do Brasil e pela Caixa. A reestruturação poderia ser feita preservando-se
a atuação anticíclica desses bancos, que seria fundamental no atual cenário
recessivo. As novas tecnologias, inclusive, poderiam dinamizar essa atuação,
pois permitem realizar as operações de crédito de forma muito mais rápida e
segura para os bancos e os clientes.
Os processos de reestruturação nos bancos federais
terão impactos sobre a clientela e o funcionalismo.
Para o funcionalismo, não há garantias de que a
reestruturação não implicará transferências indesejadas de locais de trabalho e
de funções. Já em relação aos planos de desligamentos e aposentadoria
incentivados, a experiência da década de 90 mostrou que eles se tornaram uma
fonte de pressão e sobrecarga de trabalho para aqueles que permaneceram no
banco.
Por outro lado, para aqueles que aderirem aos
desligamentos incentivados, as atuais perspectivas do mercado de trabalho são
pouco promissoras diante da forte recessão econômica e das restrições impostas
pela Emenda Constitucional 55, que estabeleceu limites rígidos ao gasto
público, portanto, à realização de novos concursos e mesmo à contratação de
aprovados em concursos recentes.
Também não está descartada a possibilidade de uma
forte contenção salarial findo o prazo da Convenção Coletiva de Trabalho dos
bancários, em 31/08/2018, caso permaneça a atual política de contenção do papel
dos bancos públicos, limitando-o aos padrões conservadores dos bancos privados.
Por fim, o encolhimento da rede de atendimento física,
os altos custos do atendimento digital, decorrentes dos valores de planos de
internet e smartphones, a forte
restrição ao crédito e as elevadas taxas de juros irão penalizar os clientes de
mais baixa renda e elitizar ainda mais o atendimento bancário no país.
Em suma, a natureza da reestruturação em curso nos
bancos federais é semelhante à ocorrida nos anos 90, que tantos danos causou
aos seus empregados e à sociedade.
* É economista do Dieese na
Contraf-CUT
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