Entrevista, em 25 de julho de 2011, do então Reitor, Carlos Levi, sobre o ENEN, REUNE e, também acerca da FACC e do IE (bem ao final)
Clarissa Thomé / RIO - O Estado de S.Paulo.
''Seleção via Enem é mais inclusiva e democrática''
Recém-empossado, reitor da UFRJ defende o fim do vestibular e diz que exame unificado ajuda os mais carentes
25 de julho de 2011
Marcos de Paula/AE
Reitor recém-empossado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Antonio Levi é um entusiasta do fim do vestibular. A prova de ingresso será abolida a partir deste ano e os alunos serão selecionados pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a partir das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Para ele, essa é uma forma de democratizar o acesso à instituição. A outra é ampliar o número de alunos da graduação no turno da noite. Hoje, 4 mil estudantes estão em cursos noturnos - mil a mais do que em 2007. A meta é chegar a 8 mil em 2020.
A criação de vagas no período da noite também é uma estratégia para atrair faculdades para o câmpus do Fundão. Cursos como Direito, Comunicação e Ciências Sociais estão espalhados em prédios históricos na região central e na Urca. Levi é da corrente que prefere dar outros fins a esses edifícios - gostaria de vê-los transformados em centros culturais e museus. A transferência esbarra na resistência dos departamentos.
Para receber os novos estudantes, a segurança na Ilha do Fundão será reforçada. O câmpus ganhará portões e monitoramento eletrônico do acesso de carros. Até os anos de 1990, o campus era usado como local de desova de corpos, abandono de carros roubados e até rota para tráfico e contrabando por causa do acesso pela Baía de Guanabara. Leia, a seguir, a entrevista de Levi ao Estado:
O senhor assume a reitoria da UFRJ no momento em que a instituição decide abolir o vestibular e aderir ao Sisu. Como o senhor vê essa mudança?
Esse processo, ao meu ver, é mais democrático e mais inclusivo. O que se observava era uma autoexclusão dos alunos oriundos das camadas mais carentes da sociedade, que se julgavam de antemão impedidos de entrar na nossa universidade (o modelo de vestibular anterior era por provas discursivas). Tenho certeza de que o exame unificado amplia de forma significativa as chances desses estudantes.
No ano passado, a UFRJ reservou, pela primeira vez, 20% das vagas para alunos egressos de escolas públicas e por muito pouco não aprovou a cota étnica. O senhor acredita que a UFRJ possa caminhar para ter uma cota para negros?
Essa discussão vem sendo bastante amadurecida nos órgãos de deliberação da universidade. Mas eu, particularmente, considero que ainda estamos em uma etapa em que a exclusão maior se dá com o contingente enorme da nossa juventude que não tem a chance de entrar no ensino superior. A nossa cobertura atualmente, incluindo todas as vagas públicas e privadas da educação superior, não atinge a 14% do contingente de jovens na faixa etária universitária. Estamos falando de 86% de excluídos. Entendemos que a reserva para egressos de escolas da rede pública, com corte de renda de um salário mínimo per capita, também incorpora um componente étnico das minorias desfavorecidas.
Qual outra forma de democratizar esse acesso?
Nós temos nos empenhado em aperfeiçoar a expansão dos cursos noturnos. Hoje, dos 35 mil alunos matriculados, temos cerca de 4 mil nos cursos noturnos. A meta é dobrar esse contingente, perseguindo a lógica de que essa expansão é a que pode ser realizada de forma mais rápida e com investimento reduzido, já que os espaços já estão disponíveis.
Qual é a grande dificuldade? É a questão da segurança?
Ao contrário. Temos investido muito. A iluminação do campus atingiu um patamar bastante adequado. E os indicadores relacionados a eventuais ocorrências relativas à segurança são quase nulos. Até o fim dos anos de 1990, a região estava bastante degradada. Isso se reverteu completamente. Eu não me lembro da última vez que houve ocorrência policial. Nosso padrão de segurança é bem acima da média da cidade como um todo e não é diferente de regiões como Ipanema.
Que investimentos estão sendo feitos nessa área?
Está prevista agora a implementação de um sistema eletrônico de monitoramento do acesso de veículos na cidade universitária. Será feito o cadastramento dos usuários e isso permitirá um controle eficiente do acesso ao campus, com cancela eletrônica. E estamos planejando a instalação de portões robustos. Nós não queremos fechar a cidade universitária - não devemos correr o risco de torná-la uma cidadela fechada, fortemente protegida, porque acreditamos que a segurança vem é do uso mais intenso e a integração com a cidade no nosso entorno. O portão tem o efeito psicológico, de se entrar em um território com algum nível de controle. E esses portões poderiam ser acionados caso houvesse algum tipo de necessidade.
Quais são os cursos que funcionarão no período da noite?
Essa é uma negociação que envolve os departamentos. Estou investindo esforços e negociações com a Faculdade Nacional de Direito, que já tem bela oferta de vagas no seu horário noturno, mas lá na Praça da República (centro). Estou empenhado para que as atividades não sejam transferidas, mas que a faculdade também possa abrir na cidade universitária um curso noturno.
Mais algum?
A Faculdade de Administração, que decidiu que deixará o Palácio Universitário, que fica na Urca, já oferece curso de Ciências Contábeis no período noturno na cidade universitária, antes mesmo da transferência. O Instituto de Economia, por sua vez, abriu um curso noturno na Urca, e eu vou me empenhar para trazer esse curso para cá, independentemente da posição de eles se transferirem ou não. Enfim, há um grande movimento para se concretizar a ampliação do nosso horário noturno.
A transferência dos cursos da Praia Vermelha para o Fundão está cada vez mais perto de acontecer. Os alunos que conheço e que fazem cursos no Fundão estão inclinados a aceitar a transferência dos outros para lá. Vantagem para eles, óbvia. Os que não estudam no Fundão, praticamente todos, não desejam se transferir. Dentre as críticas que eu presenciei em conversas com amigos/estudantes da Praia Vermelha a segurança e a falta de infra-estrutura para abrigar esses cursos são os principais. Eu, por exemplo, não sei se teria coragem de estudar no Fundão a noite. É muito perigoso. E eu me lembro de ler noticias no jornal sobre assaltos dentro de sala de aula e relatos de amigos que estão estudando no Fundão terem sido assaltados e ainda nem estou na metade do curso. Outro ponto é que o Fundão não tem onde alocar esses cursos, não tem professores, não tem salas para dar aula.
ResponderExcluirUm professor disse em sala de aula que não era perigoso ir para o fundão, pois cansou de sair de lá as 22:00 hrs e achou tranquilo. Quando perguntaram se ele já foi para a faculdade de ônibus ele disse que não! Será que ele imagina que todos os alunos irão assistir aula de carro? E como assim o fundão tem um padrão de segurança acima da média e não é diferente de Ipanema? É pra rir?
Difícil mesmo é acreditar nesse investimento em infra-estrutura, pois além das obras não realizadas na própria praia vermelha (que eu vejo porque estudo lá), ontem mesmo o jornal estadão publicou a seguinte notícia sobre as obras paradas em universidades federais pelo Brasil:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110724/not_imp749170,0.php
Agora sobre o ENEM eu não sei se o governo tem a capacidade de administrar um sistema único de inserção em universidades. No ano passado foi uma confusão só. E na UFRJ ouve atrasos nas inscrições em disciplinas. No jornal já tem notícia de gente recorrendo nota de redação do ano passado. Pode ser que neste ano, por não ser mais a primeira vez, melhore. Creio que o vestibular se tornará muito mais competitivo e ainda mais uma prova de resistência do que inclusivo e democrático. Uma prova com 200 questões? O que isso prova?
Professor, o que o senhor acha de a
UFRJ aderir 100% ao ENEM? E sobre a decisão do Reitor de "ignorar" os departamentos e se empenhar para levar, em especial, o curso de Economia para o Fundão?
Lohany